quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Receita de Ano Novo - Drumond


Para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).

Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Via Luiz Ap.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Menos autoridade, menos


Marataízes botou as duas mãos no troféu "Me Ufano que Eu Engano", uma disputa perna-de-pau travada no verão entre os municípios do sul capixaba do circuito de praias, caminho natural dos veranistas desejosos em "salgar a bifa" e também ficar um pouco de costas para o restante do Brasil.
A dianteira do torneio é pela estimativa da autoridade (interino) do turismo de Marataízes, garantindo a "passagem" de 450 mil turistas na cidade.
Socorro!!! "Serve-me um pára tudo", a moda daqui, que eu quero descer!!!!
Gostaria de ter acesso à base de dados desses "çabios" que trombeteiam tal profecia. O espanto cresce ao ler que "fundamenta" o seu "argumento" na recuperação da Praia Central, obra não concluída, pra atrair os "turistas".
A verdade é que o torneio perna-de-pau não resiste a uma simples análise. No caso de Marataízes, segundo o IBGE/2008, a população é de cerca de 32,3 mil habitantes. Agora, imaginam despejar em 30 dias aqui 14 vezes este contingente, 450 mil veranistas, segundo o cara.
Reflete o despreparo abismal dos órgãos públicos pra trabalhar o potencial da região. Estão a reboque das mudanças, apostando num modelo ultrapassado de veraneio, onde as pessoas tinham tempo pra ficar até 45 dias se deliciando com o ar marinho.
Já era. Esgotou-se. Escafedeu-se.
Não dá também pra livrar a cara da mídia, cabendo a ela uma apuração cuidadosa e critérios na divulgação dos números, independente dos seus interesses comerciais.
Uma economia auto-sustentável faz bem a todos. Não é, portanto, direcionando seus holofotes pra cá e reproduzindo os absurdos, que mudará a indigência. Tá só inflando a egolatria daqueles que têm o seu momento de poder.
Aqui o link da matéria da autoridade.
Em tempo: a população fixa (IBGE) dos cinco municípios relacionados é de pouco mais de 100 mil habitantes. Ora, pois, você dimensionaria a infraestrutura pra aguentar "um milhão de turistas"?
Não existe.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A dor da gente........


Há uma índole no homem que é inaceitável.
A cada dois meses vamos a Vitória, capital capixaba, cerca de 123 km da aldeia, por causa de uma das minhas moléstias. É também oportunidade pra reabastecer nossa despensa, pois os preços nos supermercados da aldeia, ainda mais no verão, são de importados.
O local, Atacadão, é democrático, misturando toda a pirâmide social.
Dia 15/12, voltamos lá e pela segunda vez presenciei o mesmo drama pessoal. Uma pessoa, de uns 50 anos, feliz com seu carrinho de compra, dirigiu-se ao bicicletário. Era um gesto como de outros que ali estavam, sejam eles em seus carros, camionetes, motos, bicicletas ou de ônibus. Mas pra seu desespero, roubaram a sua bicicleta e levaram também a corrente e o cadeado, peças que teoricamente evitariam aquele infortúnio.
Logo ele foi cercado por "seguranças", atraídos pela curiosidade mórbida que bafeja algumas pessoas nessas circunstâncias. O problema seria resolvido com uma câmera de monitoramento no bicicletário, que fica em baixo do posto de observação local.
Saciados, deixaram o cabra sozinho, olhando o horizonte, provavelmente indagando: Logo comigo?
Após uns 40 minutos desnorteado, resignado, decidiu arrumar as compras na caixa que seria amarrada ao bagageiro da sua "ex-magrela". Aí apareceu na sua frente outro funcionário, com características de segurança, e decidiu apelar outra vez por ajuda, contando o seu drama. A "autoridade" mandou ele procurar outro colega que tinha entrando no banheiro. Este, por sua vez, não perdeu tempo e rolou a bola quadrada, indicando procurar a gerência.
Uma coisa é certa: Voltou pra casa apenas com suas compras.

sábado, 19 de dezembro de 2009

domingo, 13 de dezembro de 2009

"Espírito Santo": Um testamento?

Li o livro "Espírito Santo", presente do João Gualberto e Cristina, que devem ter recebido algum sinal do meu desejo por ele. Valeu amigos.
Assinado pelo juiz Carlos Eduardo Ribeiro Lemos, pelo secretário de Segurança do Estado, Rodney Rocha Miranda e por Luiz Eduardo Soares, coautor de "Elite da Tropa", o livro conta detalhes das investigações sobre o crime no Estado.
É um testamento? Não ousaria a tanto.
A narrativa parte das primeiras suspeitas levantadas, a partir de 2000, pelos juízes Carlos Eduardo Lemos e Alexandre Martins, na Vara de Execuções Penais da capital, onde atuavam como adjuntos. Os indícios, benefícios ilegais a presos, respingavam no juiz titular, um dos acusados do assassinato de Alexandre, morto na manhã de 24 de março de 2003 quando ia para a academia. O acusado ainda aguarda julgamento.
Carregado de detalhes não conhecidos, o livro não nomina os chefões do crime, optando por caracterizá-los através de pseudônimos. Já os executores e outros personagens desse mundo paralelo são tratados pelos verdadeiros nomes. Deferência, também, dada a outros que combateram o bom combate.
A citação da ocupação pública dos "chefões" e a aposta na sonoridade dos pseudônimos como pista dos nomes de certidões - Prates que seria Gratz, Coronel Petrarca pra Ferreira e do juiz Lobo pra Leopoldo, ficando apenas na tríade do mal -, pode até funcionar para o público interno. O externo vai precisar de uma pesquisa pra saber a verdadeira identidade.
Talvez seja este o "pecado" do livro. Ou seja, as evidências sobre o "crime organizado" estão sobre a mesa, mas não personificaram os chefões e parte do seu entorno.
Outro senão ao "Espírito Santo" é a continua citação nominal do governador do Estado. Acabaram exagerando na forma.
Entendo que ao bancar a continuidade das investigações, num momento crucial, menos de três meses da sua posse, com o corpo do juiz Alexandre Martins, abatido por tiros numa rua de Vila Velha, vizinho a Vitória, já garantiria a ele o lugar no panteão.
É está a perspectiva histórica vista hoje: A ambiência política criada pra continuidade do trabalho, inclusive, possibilitou outros desdobramentos de investigações, como a Operação Naufrágio no judiciário estadual, que resultou no afastamento do presidente do Tribunal entre outras figuras.
Ao que parece, o feeling dos autores apostou mais uma vez nesta ambiência política e numa prática do mandatário estadual, apreciador em ter suas realizações retratadas em livros.
Por enquanto tá dando resultado. Após sua publicação, parte do comando da Polícia Militar local peitou o secretário Rodney, colocando outdoors nas ruas e manifestações, pedindo a sua cabeça. Sua excelência fez ouvido de mouco até agora.
Sem dúvida, o livro é uma referência pra entender parte das entranhas do crime no Estado. Trabalhou com farta documentação, sustentando a tese da existência material de uma rede criminosa, lastreada por apoios no Executivo, Judiciário, Legislativo, e na sociedade civil.
Carregou no realismo, variante que os veículos de comunicação imediata não conseguem explicitar. Como exemplo clássico, a escolha pelo título "Espírito Santo".
Sem azedume. Apenas um ponto de vista.
Li, gostei e passo adiante.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Uma etapa


Postei em agosto um texto falando da importância do Andrade, técnico do Flamengo, pra quebrar mais um bastião incrustado na nossa relação Casagrande & Senzala.
Com a conquista do hexa, verdade que não discuto, em respeito aos talentos dos jogadores que disputaram e ganharam o campeonato de 1987, leio na blogosfera outros textos com a mesma linha de raciocínio.
Reafirmo que a contribuição do "Tromba", não só do ponto de vista futebolístico, coisa que domina muito bem, poderá ajudar, em muito, a sociedade brasileira, dentro de uma perspectiva solidária.
Aqui não cabe a pretensão de jogar toda essa responsabilidade em seus pés. A minha esperança é que fique pelo menos a mensagem da nossa capacidade de transformar, de mudar pra melhor.
Já é de bom grado.
Também não se deve relevar o contraponto que ele estabeleceu com os demais "professores" das quatro linhas dos campos de futebol, ao não impor a sua verdade como única.
A continuar sua trajetória atual é possível vislumbrar mais um Carioca, outra Libertadores, o Hepta e o Mundial de Clubes.
Não to querendo muito.
Viu, caro Dino!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Outra da "burrocracia"


Há cerca de 20 dias fui notificado de uma multa de trânsito da guarda municipal da prefeitura de Vitória, conferida ao meu assistente Maumau, vacilo que rendeu sete pontos na sua carteira.
Procurei na notificação um telefone para as providências de praxe. Moro a cerca de 130 km da capital capixaba. Foi inútil. Restou ligar para o geral da prefeitura, que passou o do gabinete do secretário de Infra Estrutura e, finalmente, cheguei ao número do funcionário responsável.
Ou seja, mais custo com três interurbanos.
Boa foi a explicação do dito, indicando procurar a orientação na notificação. Realmente tá lá, mas é preciso de um telescópio pra encontrá-la. A letra é tão minúscula a ponto de crer que "çabio", produtor do formulário, gozou com o cidadão desse lado do balcão.
É uma informação vital e merece tratamento adequado.
Indignado, preparei um texto pra Excelência e encaminhei para o "fale com o prefeito". Pra não perder viagem foi também pra Ouvidoria. É apenas uma colaboração pra uma derrota da "burrocracia". Até o momento nadíca de pitipirica de resposta.
A minha turra com a "burrocracia" é inesgotável.
A tal informação, que é regulamentada por lei, te dá a opção de utilizar Correio ou Detran pra confirmar o recebimento da notificação, informar quem conduzia o veículo ou recorrer da multa. Optei pelo último, próximo à minha casa. Lá informaram que não tinham nada a ver com o imbróglio.
Restou o Correio. Aí, criatura, outra surpresa: não tinha o CEP da rua.
O desfalque financeiro da multa veio embrulhado num processo "kafkiano".
Resignei.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Minha Canção - Os Saltimbancos

"Minha Canção" do álbum "Os Saltimbancos" numa tradução e adaptação de Chico Buarque para a obra de Luiz Enriquez e Sérgio Bardotti.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Uma lembrança na memória


Toda vez que o homo sapiens decidi intervir na paisagem, tenham certeza, o dano será irremediável. São tantas as lambanças que não cabem nos dedos das mãos.
A Praia Central da aldeia foi sempre o principal atrativo local. Por anos, induziu a vinda de centenas de veranistas capixabas, mineiros e cariocas, doidos pra "salgar a bifa" e ficar também um pouco de costa para o Brasil. A grande procura inflou os brios de uns ufanistas que a batizaram de "Pérola do Sul".
A partir da década de 90, a sua faixa de areia, de uns cinco quilômetros, começou a desaparecer, agravando nos últimos anos. E mais recentemente, sumindo de vez. Pra piorar, a maré passou a destruir a avenida, próxima à praia.
Portanto, como em outras plagas, faltam consciência e vontade política pra se criar uma base legal de uso correto do espaço urbano. A exceção fica por conta da Praia Nova, onde existe uma faixa razoável, entre as construções, a avenida e a praia. Foi só um surto de respeito às condições locais do mar, que é aberto, ondas fortes e profundidade considerável.
A "solução" pra recuperação da Praia Central foi a construção de espigões de pedras, avançando mar adentro, na tentativa de quebrar a corrente marítima e conter a maré. São dois grandões nas laterais e dois menores no centro.
Uma beleza de paisagem!!!! Cercam aqui e vai rebentar em outro lugar. Eles que se danem.
O mar se encarregou de reconstruir uma faixa da areia da praia, que já "bomba" nos finais de semana e feriados. Inclusive, ressuscitou a crença de parte da comunidade que aposta na aglomeração de veranistas como solução mágica pra estagnação econômica local. Os tempos e os costumes mudaram. Se antes a permanência de costa pra o Brasil era de até 45 dias, hoje não passa de sete dias ou um final de semana. Sem considerar o aumento das oportunidades pra circular em outros locais.
Agora anunciaram a vinda da draga, lá da Dinamarca, pra retirar à areia do mar e criar a faixa de praia. Tão gastando uns R$ 50 milhões na "obra".
Pra mim que salguei a "bifa" pela primeira vez na Praia Central, tomei meus primeiros "caldos" e surfei jacaré, no seu estado natural, é um assombro olhar agora aquele mar, ora azul, ora verde, emporcalhado pelos espigões, convicto de que somos ainda poucos e quixotescos nas nossas convicções harmônicas com Gaia.
Não joguei a tolha.
A Praia Central é uma lembrança na memória.
É isso. Simples.
O progresso impera!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Cenas do poder


Aparando o mato que cresceu por aqui.

Neste final de semana, 15/11/09, a Folha de São Paulo, único dos "jornalões' e similares, botou a público um imbróglio que por muito tempo rondou as esferas dos poderes da república: O filho do ex-presidente FHC com a jornalista Mírian Dutra, da TV Globo, Tomas Dutra Schmidt, hoje com 18 anos.
A notícia acabou repercutindo mais na blogosfera, trazendo outro babado que aguçou também o imaginário das pessoas do poder central e dos capixabas.
É um fragmento de um post do jornalista Marco Aurélio Mello, na sua página na internet.
Tá lá escrito por ele: "E se eu também contasse que o apartamento dela, na Capital Federal, foi usado antes dela ser despachada, portanto com sua generosa complacência, pelo mais importante vassalo da Corte do Cosme Velho, à época, para encontros amorosos com uma das mais belas Deputadas Federais, que era casada."
Aqui pra ler texto completo.
Se me perguntarem se a história é verdadeira, nego. Apenas relato o que ouvi e aproveito pra comentar um episódio que me deixou com um pé atrás, ocorrido nas eleições de 1998, na qual estava envolvido. Não atesto a veracidade do babado, mas a elucubração leva a considerar uma certa correlação entre a personagem do Marco Aurélio e o que vi.
Assistindo o Jornal Hoje, da Globo, eis que surge na telinha a "musa" do Congresso numa "matéria" que poderia muito bem ser considerada tipo "encomenda".
Ela conseguiu a reeleição, certamente sem essa "aparição relâmpago" como decisiva, mais como um elemento pra "encorpar" a campanha. E bota elemento nisso!
Se quiser ir fundo no "pé na cozinha" do FHC, vai lá.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Eu tenho Siringomielia IX


Cirurgia

Completo um ano, nesse outubro, da minha segunda cirurgia. Não tá diretamente ligada a siringomielia. No entanto, ela não pode ser dissociada da doença. As conseqüências refletiriam no meu quadro clínico, comprometendo sobremaneira o que ainda me resta de mobilidade.
Seguindo o jargão médico, a cirurgia foi uma "laminoplastia cervical, C3-C6 porta aberta, e fusão C4C5, à esquerda, com enxerto ósseo local, sem intercorrência".
Vou tentar traduzir: Foi feito um corte nas costas, abaixo da cabeça, de uns 15 centímetros, para colocação de quatro pinos de titânio e uma placa de 10 milímetros, presa por mais dois pinos, na coluna cervical. O procedimento cirúrgico, com duração de cerca de três horas, que não apresentou problemas, foi pra retirar uma hérnia, entre a C3 e C6, - coluna cervical -, considerado ponto crítico nos eretos.
A hérnia, na forma de uma mancha, foi detectada pela ressonância quando do meu retorno ao hospital Sarah, de Brasília, em 2006, ao decidir tratar a siringomielia como moléstia. Ela passou a ser observada a cada revisão e, em 2008, a equipe médica optou pela cirurgia. Foi aí que percebi os acertos em voltar ao hospital e encarar o TFD pra viabilizar os custos de transportes e estadia do tratamento. Eu moro no Espírito Santo.
Coordenada pelo Dr. Henrique Souza, neuro que me acompanha, profissional de admirável serenidade e lucidez nas informações sobre o curso da doença, médico na acepção do termo, a cirurgia teve o apoio de uma equipe multidisciplinar, procedimento rotineiro do hospital.
Com dez dias tive alta e mais oito já estava de volta pra casa, na aldeia, "enforcado" por um colar no pescoço, treco que me azucrinou a vida por mais três meses. Brincadeira a parte, é a nossa contrapartida pra se ter o resultado desejado.
Não custa muito.
Costumo dizer que nossa responsabilidade é de 50%. Os médicos retrucam, afirmando que ela é de 80%.
Foi uma recuperação tranqüila, graças à boa capacidade de regeneração que tenho e o apoio da Paula, minha mulher, sempre pronta pra contar os desvios ao Dr. Henrique.
Na revisão programada pra fevereiro de 2009, tirei a carta-alforria do colar. Tudo nos conformes e livre pra dar pescoçadas pra todos lados, sem precisar de também mover o corpo.
Voltei ao Sarah, em setembro último, pra referendar a recuperação. Os exames mostraram uma cirurgia consolidada, inclusive com a função de ajudar a desobstruir a passagem do líquor pela medula.
Diferente da expectativa vivida com a primeira cirurgia, feita em 1992, na descoberta da siringomielia, a atual foi consciente. Sabia o que seria feito. Lá atrás mentalizei a cura da "mimi". Deu chabu. Não o suficiente pra brecar a vida e os meus sonhos. Viajei por eles até chegar aqui, agora com informações pra entender a doença e continuar pedalando a bicicleta. Até anseio pela possibilidade da cura. Enquanto ela não vem, a vida tá aí e é pra ser vivida. Não dá pra esperar milagre. Milagre somos nós.
O relato ficaria torto caso não registrasse a eficiência da estrutura física, de equipamentos e profissionais do Sarah. Embora o regime trabalhista difera do setor público, o hospital é mantido com recursos do orçamento federal. Pra mim é a mostra clara de que a prestação de serviço público não, necessariamente, seja sinônimo de desorganização e ineficiência.
Arisco a dizer que dificilmente eu teria o mesmo tratamento do Sarah se fosse atendido por qualquer uma das operadoras de planos de saúde do país.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Pereira da Viola - Bolero de Ravel

Aprendi a gostar de música ouvindo os primeiros acordes da viola, cavaquinho e pandeiro. Tinha de quatro pra cinco anos, na Jacutinga, interior de Jerônimo Monteiro, sul capixaba, onde nasci. Foi também quando coloquei as mãos pela primeira vez num instrumento. Isso pelos idos de 1956/57, instrumentos empunhados por uma família que trabalhava nas terras dos meus pais, moradora próxima à nossa casa. Tocavam sempre aos domingos. Em outras ocasiões, os músicos participavam de um programa de auditório, aos domingos, na rádio AM Cachoeiro, de Cachoeiro de Itapemirim. Era a glória para eles e pra nós, assunto que rolava dias e ganhava fama na região. A família mudou, a primeira perda, mas ficou o gosto pela música, principalmente pelo som da viola, um dos instrumentos da linhagem brasilis.
Não tive o privilégio dito por Caetano Veloso - como é bom tocar um instrumento - mas acho que me salvei do lixo que impera hoje.
Exemplo? O vídeo acima.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Atrapalhando a soneca


-Moço, a sua boca tá aberta.
O alerta é de um desses senhores aposentados que passeiam com seus cãezinhos, amarrados nas coleiras, emporcalhando as calçadas das cidades.
Não apoio a criação de animais presos em apartamentos ou casas, principalmente cachorros. Você pode não concordar. Mas é aí que tá a beleza da vida.
Pagando pecados. Uma vizinha deu agora pra pedir os jornais que doou aos recicladores - fazemos isso também com outros materiais recicláveis. É pra sua cachorra cagar e mijar. Tô atordoado com essa heresia, um pedido nada nobre, que vou passar a negar.
O aviso do início foi dado ao Maumau, de Maurício, meu assistente de direção, pra algumas viagens a Vitória, capital capixaba.
Maumau é uma indicação do Abobrão, esse último cria do Luis Ap, grande camarada das lidas jornalísticas, políticas e festas.
O episódio com o Maumau aconteceu nesse outubro.
Enquanto aguardava o médico pra revisão de uma das minhas moléstias, que precisam ser vigiadas, ele a Paula, minha mulher, saíram pra fazer tarefas de rua. Numa das paradas, Maumau aproveitou pra tirar a soneca diária, pós almoço, ali mesmo no carro, extenuado por ter acordado às 5h00, fato não muito usual na sua vida. Só não contava com o flagrante da boca aberta.
E não foi um mal agradecido.
-Pô, muito obrigado! Valeu!
No início do ano, Maumau viveu um grande dilema. Sonhou com um emprego na prefeitura da aldeia, essas promessas que se espalham nas mudanças de prefeitos. Só que condicionou o emprego, desde que "me deixe solto". Tudo em nome da sagrada soneca.
- Tem coisas que só acontecem comigo!
É o resumo da história, pelo próprio, ao ser pego de boca aberta.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A lógica


Do outro lado da foz do rio Itapemirim, sentido Norte, sobrou pra Itapemirim, após a criação do município de Marataízes, no ES, a aldeia, uma pequena faixa de litoral, onde ficam as praias de Itaoca e Itaipava.
A partilha dessa emancipação tem nuances que só a política explica.
Itapemirim abocanhou as terras produtivas do interior, incluindo a Usina Paineiras, produtora de álcool e açúcar.
Marataízes ficou com a maior faixa de praia, 20 km contra cinco, mas é Itapemirim quem recebe a maior fatia de royalties do petróleo, produzido no mar capixaba, ocupando a 5ª posição no ranking estadual. Já a aldeia figura lá pelo 20º lugar, entre os arrecadadores do tributo.
Vai entender a lógica.
Indo ao que interessa, a imprensa do Estado noticiou que o mar voltou a destruir parte da pista, reconstruída há poucos meses, na orla de Itaipava, onde tá também o mais importante porto de pesca capixaba, sobresaindo o atum.
Por conta disso fizeram um enorme espigão no mar, aquele aterro com pedras, pra proteger a área onde os barcos atracam.
Resolveu um problema e criou outro.
Aí tiveram que fazer outro espigão, dividindo a enseada, principal atrativo local, ao meio.
O mar voltou a tomar o que é seu.
Os "çabios" projetaram uma contenção de pedras, na lateral da pista, próxima da areia, pra segurar a fúria da água, acreditando que estava tudo dominado.
Bastou a próxima ressaca do mar, a notícia do jornal.
A declaração de um cidadão, registrada pela matéria, mostra a sua preocupação com a pista por permitir a passagem de um só veículo.
É, precisamos evoluir mais.
Criar e respeitar uma faixa de proteção entre a ocupação urbana e o mar, não faz parte da lógica e nem é prioridade pra maioria das pessoas, que avançam, cada vez mais, com suas construções sobre o mar.
Mas a conta, sempre mais salgada, tá chegando.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A prova

Finalmente só agora foi possível, e graças ao tirocínio/maestria do "colega meu", multi-se-vira-em-todas, vizinho de rua, rafaadrenalia32@, autor da foto ao lado, mostrar a ilustre moradora da "casa das corujas".
Esta é a persona, mais o seu companheiro, o caçador mor da Praia da Cruz, território que demarcaram na aldeia, formam o casal de coruja buraqueira, acolhido por nós, e que se tornou nossa companhia por cerca de dois anos, exercitando uma convivência respeitosa, partindo do princípio que todos podem coabitar Gaia.
Ele aproveitou uma parte quebrada do muro, que dá pra garagem da casa onde moramos, pra se instalar e continuar perpetuando a espécie.
Mudamos pra outra casa na mesma rua e o casal continua lá.
Agora fazemos visita e ele retribui.
Como se vê, ela tá na posição preferida, equilibrando numa perna, com cara de braba, pronta pra defender o seu espaço.
Pena não ter sido possível também captar o som do seu pio, outra forma de avisar pra não se meter com ela.
Ele já cumpriu o ciclo biológico anual de colocar ovos, chocar, cuidar, durante cerca de 50 dias, de mais quatro filhotes, pra povoar ainda mais a aldeia.
Uma nova ninhada, agora, só ano que vem, a partir de maio, salvo não seja expulso na temporada de verão que se avizinha.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Comportamento


Os nossos vizinhos são evangélicos. Inclusive, o da frente de casa, é pastor.
É uma das características da aldeia, o grande número de evangélicos, a ponto da quantidade de templos se rivalizarem com as portas de botecos.
As igrejas católicas também não ficam atrás.
Enfim, a disputa por ovelhas aqui é uma batalha encardida.
Uma das observações sobre os vizinhos são os encontros que realizam. Até agora não extrapolaram, portando-se com certa civilidade, sejam eles realizados durante o dia ou à noite, sempre com hora pra começar e terminar.
Não que não falem alto ou não cantam ou não reproduzam músicas em aparelhos ou não tenham crianças.
A minha teoria é que por não rolar bebida alcoólica, os impulsos ficam mais reprimidos, embora demonstrem uma certa liberação, com o êxtase das músicas ou de algumas brincadeiras. São ávidos consumidores de refrigerantes, ruim pra saúde.
Mas nem tudo são flores. Na quadra seguinte tem uma casa que abriga o Povo Sem Praia. Lá o bicho pega. É reduto pesado, de bebida e pesadelo, do tipo aqui o sistema é bruto.
Qualquer feriado, com o de agora, bate a expectativa de confronto. É caso de polícia, que mesmo sendo acionada - tem o respaldo de uma portaria do juiz local -, não entende o caso como "delito grave". Como se fosse possível contemporizar os tipos de delitos. A pena é até discutível.
No feriado de 7 de setembro, os caras barbarizaram com som alto nos carros, cantadas de pneus, barulho de motos sem o miolo da descarga e conversas com mais de 60 decibéis.
É uma sensação de se sentir refém desses energúmenos.
Vamos ver o que acontecerá.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

As figuras da aldeia I


Em qualquer parte existem figuras típicas que formam o conjunto da sociedade local, sejam por suas características físicas ou por atitudes em público. É o dinamismo da sociedade.
Nada de discriminação, mesmo porque me considero também personagem desse enredo.
A aldeia é um remanso desses tipos. Basta uma manhã por aqui que será capaz de ver dezenas deles nas ruas.
Um dos tipos é formado por uma mulher exótica, na faixa etária do cinquentinha, cabelo sempre pintado na cor branca de boneca da espiga de milho, vestida num short curto, o seu homem, na casa dos quarenta, e a "filha", uma cachorra pinscher.
Cumprem uma rotina diária, pela manhã, de casa até um mercadinho, em fila, na seguinte ordem: A "filha", o pai e a mãe. O pai zeloso, atento aos movimentos da "filha", nos cruzamentos das ruas, chamando pra andar quando desvia ou fica pra trás:
Vamos filha, cuidado filha, corre filha.....
Quando o tempo esfria, ele tem sempre uma fralda para cobri-la e colocá-la em baixo do braço.
Essa rotina já dura uns seis anos.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

É outro dia


O sol voltou e todas as janelas foram abertas pra ele entrar.
É impossível garantir quanto tempo ficara. Melhor que seja assim. Se fosse regulado por um ser humano, a discórdia seria ainda maior. É complicado agradar essa raça. Portanto, deixa como tá. Ora chuva, ora sol.
Toda vez que volta, após uma chuva, o sol traz junto um belo espetáculo para os observadores do tempo aqui da aldeia. Ela fica ao nível do mar e tem no seu oposto, a oeste, toda a cadeia de montanhas que forma a Serra do Mar, maciço que começa em Santa Catarina, vem subindo próximo da costa brasileira, terminando no Espírito Santo, mais precisamente entre os municípios de Ibiraçu e Colatina, onde está o rio Doce.
A luminosidade, nesse retorno do sol, não é intensa e, também, não existem nuvens ou neblina pra embaçar o visual, deixando uma paisagem limpa. Foi o que vi hoje pela manhã, mais uma vez, ao ir à feira do produtor: Recortes e detalhes mínimos de cada montanha, espelhados numa nitidez e coloração azul, coisa de arrepiar, que se estendendo ao longo de todo maciço, por onde o olhar alcança, beleza vista só a partir daqui. Um presente da mãe natureza, generosamente ofertado a todos nós, traduzindo suas diversas formas de vida.
A aldeia permite outro visual pra contemplação. É só caminhar pela praia Nova, próxima da foz do rio Itapemrim, que se tem à frente o mar e ao fundo parte dessa parte da Serra do Mar.
Tá feito o convite. Venha ver!
Ps: O vento nordeste, que tava represado, bate com sua força peculiar. É tempo dele.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O tempo


Este tema não é falta de assunto.
Parafraseando Caetano Veloso, alguma coisa está fora de ordem.
Estou praticamente há quase três meses sem uma sequência na hidroterapia, pra me manter de pé, na luta diuturna pra preservar a sobra de autonomia, consequencia da siringomielia, doença com que convivo há 18 anos, e que progressivamente compromete membros superiores e inferiores.
Aliás, nesses seis anos morando na aldeia, não tinha enfrentado um "inverno" como esse.
Aqui não tem uma piscina coberta. Aquecida tem, mas sua condição de uso, pra um "malacabado", é torturante. E não adianta pedir melhorias. Falta sensibilidade.
Resta, então, contar com generosidade da natureza, que neste ano desequilibrou.
São inúmeros os exemplos. Segunda, 28/9/2009, o sol pocava, alimentando a perspectiva de uma sequência na hidroterapia. Hoje, 31/09, tô de meia, calça de moletom, blusa de frio e devo usar edredom pra dormir, ao invés de uma simples colcha. Não me lembro, neste meio século de existência, ter enfrentado um dia de primavera com essa intensidade de frio.
Na ida a Brasília, pra revisão médica no hospital Sarah, nesse começo de setembro, encontramos uma paisagem verde e o ar com umidade, contrariando a ordem das coisas. Lá é tempo de secura, de sol refletir em vidro, provocando incêndio.
Tremor na Indonésia, tufão no Vietnã, terremoto no Peru, tsunami em Samoa e frio abaixo de zero no sul do Brasil. Como diria Tutty Vasques, é a turnê do fim do mundo por todos os lugares.
Gaia tá reagindo.
E eu, esse pequeno organismo vivo dessa complexa cadeia, torcendo pra engrenar uma sequência de exercícios.

sábado, 26 de setembro de 2009

Eu tenho Siringomielia VIII


Depoimento

Gosto desta frase: Abra a janela e deixe entrar o sol.
Nas elucubrações pra criação do blog, estimulado pelo intrépido Dino Gracio, vadiei pelas possibilidades que essa decisão traria, principalmente quanto ao aprendizado. Afinal é o que me instiga e me move. O sabe tudo esqueceu de nascer.
Passados perto de 10 meses de ter atirado essa pedra nesse imenso oceano, pequenas ondas vão se formado. E o sol cumpre a sua tarefa, mostrando outros ângulos, que estão dando forças pra empurrar essa bicicleta.
Há poucos dias recebi um e-mail da Venuzia R. Franco, também portadora da siringomielia. O seu relato é o puro exercício de vida, da nossa luta por viver. Trocamos outro e-mail e ela autorizou a sua publicação. É o que faço, com alegria, homenageando, ainda, aqueles que passaram aqui deixando seus comentários, ou não, na certeza que apesar das dificuldades, limitações e da falta de perspectiva de cura, temos vida pra edificar nossa fortaleza e fazer uma história de vencedores.

"Prezado Carlos,
Pela primeira vez acessei seu blog e não consegui parar de ler seus textos "Eu tenho siringomielia". Pois é: eu também tenho siringomielia há 27 anos. Tudo começou quando eu tinha 25 anos e tive que fazer uma intervenção cirúrgica por causa de um aborto espontâneo. Tive que tomar uma anestesia raquidiana e dai pra frente minha vida mudou. Tive dores terríveis no hospital e os médicos não conseguiram entender por que. Seis meses depois, por causa de formigamentos na planta dos pés, procurei meu médico clínico que me encaminhou para o neurologista. O diagnostico foi siringomielia, provocada pela anestesia que atingiu a medula. Resumindo, como você, fui perdendo aos poucos os movimentos. Andei de bengala, muletas e por fim, me rendi a cadeira de rodas. Hoje, não ando, perdi os movimentos do braço direito e já tenho dificuldade com o braço esquerdo, mas como você me nego a deixar de viver. Cada perda eu me adapto. Nesses 27 anos de convivência com a doença, tive dois filhos, uma menina, hoje com 23 anos, e um menino, com 26 anos. Naquele tempo, estava cursando administração. Tive que parar pois não tinha como me locomover dentro da universidade. Continuei trabalhando, Tempos depois me formei em direito (no meio do curso tive que aprender a escrever com a mão esquerda, pois perdi totalmente o movimento da mão direita). Elegi-me deputada estadual, fui secretária de Estado e, hoje, tenho um escritório de advocacia. Deixei de fazer muita coisa que gosto, mas me concentro naquilo que ainda posso fazer. Levantar, pela manhã, é um desafio, e continuo seguindo em frente, até onde Deus quiser. A minha única queixa é a falta de tratamento, pelo menos para minimizar as dores. Já estive no Sarah, mas não vi muita melhora. Fiz duas cirurgias para colocação de drenos, ambas não funcionaram. Vi seu blog quando estava procurando por novidades sobre a doença. Fiquei muito impressionada e me identifiquei com você. Também optei por viver, mas vou ter que dar um tempo e me cuidar. A coisa tá ficando muito feia.
Um forte abraço e continue seguindo em frente.
E muita força para você e sua esposa
Venuzia R. Franco"

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Precipício


Menina Céu cada vez mais se transforma num precipício. Seu instinto predador está voraz. Não perdeu o tino da sensatez, mas se lançou definitivamente nos braços do prazer. Despirocar de vez pode significar sua queda no precipício. E isso, com certeza, não vai fazer, pois colocaria em risco tudo o que gosta, caçar. Inclusive, reduziu suas obrigações trabalhistas, flamando igual ao seu chefe, resumindo a semana a um pit stop na segunda, terça e quarta, pra exercitar sua arte.
O seu problema não é saúde e nem glamour. É dinheiro. Como gostar de falar.
Coisa simples, né?
A conquista mais recente é um "alemãozinho", de modos requintados, e que frequenta locais diletos da burguesia brasiliense. Menina Céu não tem demonstrado muito entusiasmo com essa conquista, alegando que o ato termina logo no stripe. Isso a tem levado a "repensar a relação", piscando com a volta pra casa. Ou seja para os braços do negões, eles, sim, capazes de fazê-la rodopiar pelos salões da capital federal, fechando a noite com cavalgadas homéricas, que duram horas a fio.
Chamem os bombeiros!!!
Nessa altura da peleja já deve ter voltado à origem, pois o relato é do início do mês, quando passamos por lá e, pra ela, tempo é prazer.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A obra










As aparências não desenganam.
Filosofa minhas ideias borbulhantes.
Pois é, a obra, uma acrílica sobre tela de um trecho da praia de Stª Mônica, Guarapari, ao lado, é do intrépido "Dino G.", "dono" do "estúdio FASSO QUADROS", do post abaixo.
A qualidade exprime todo o seu talento e certamente terá a recompensa pra seguir melhorando o layout do "Estúdio".
A obra é também uma de suas surpresas - idem, idem do seu talento -, que costuma apresentar nas suas escapadas da selva de aço e antena.
Mais informações aqui

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ao precursor




Caríssima amizade

Em junho, uns 20 dias após após exonerar meu
último emprego,
montei um pequeno estúdio para acrescer algum valor financeiro à minha aposentadoria.
Desde então, consegui melhorar bastante esse
ambiente - confira no anexo Estudio-melhor.jpg.
Repare que, entre tudo, agora, estão na fachada do estúdio uma amostra
(só para olhar) do que faço, número do MEU celular, meu nome e assinatura,
o que produzo e sob qual condição.
O mais importante é que, em obediência ao estabelecido pela
Lei Estadual nº 9.160, de 21 de maio de 2009, afixei cartazete
bem visível com telefone e horário de atendimento do Procon Estadual.
Sempre há quem reclame de alguma coisa, , é um caso sério.
Abs
PS: Esta mensagem foi remetida Cco a outras pessoas amigas,
umas 60 ou 80...
Dino Gracio
www.blogracio.com


Ps - Não poderia deixar de "homenageá-lo", preclaro Dino.
A mudança deixou o estúdio uma belezura, verdade inconteste.
Bravo, mestre, e ótimas produções.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Som ou cheiro?


Que os outros habitantes da terra, que tentam qualificá-los como "irracionais", se manifestam de forma consciente, eu não tenho nenhuma dúvida. É preciso apenas exercitar um pouco de senso de observação.
Fazendo minha habitual caminhada pela varanda de casa, empurrando o andador, vi um bando de anu preto, seis no total, pousando no maldito fio da rede elétrica. Foi uma meia parada. Em seguida, voaram na direção de uma patrol que realizava o nivelamento da rua. A aldeia tem diversas vias sem calçamento ou asfalto.
A primeira impressão foi que os anus tinham adaptados seus ouvidos ao barulho do motor da máquina. O raciocínio se deve a outra observação. Em frente de casa existe uma área com quatro lotes vagos, "servindo de depósito de entulho da vizinhança". A cada três ou quatro meses, patrol ou retro-escavadeira da prefeitura faz a limpeza do local. É um convite pra anu, rolinhas, sabiá, pombo, pomba-rola etc., baixarem na área atrás de insetos, minhocas e outros pequenos animais, um farto banquete, com a duração de quase uma semana. Isso se repente em outros locais onde é feito o mesmo serviço.
Trocando impressões com o Glauco Meirelles, vizinho, suscitou outra visão pra minha teoria. Ele defende que o que atraiu os anus foi o cheiro da terra removida, usando como argumento, um fato ocorrido numa área de terra sua, que arou e gradeou. Não se sabe de onde, viu repentinamente surgir uma leva de gaviões, uns 300 - achei exagero, mas garantiu veracidade - tomando de assalto o local. Os gaviões também se fartaram, uma comilança desmedida, a ponto de não se importarem com a presença do homem, a menos de 10 metros de distância.
As teorias são discutíveis, mas não vejo é a tal irracionalidade nos irmãos das outras espécies, pois o que nos movem é vontade de viver.
Outro texto interessante: Aqui

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Vida de La Pinto


A televisão sempre foi a sua grande paixão. Não que tenha relegado às calendas outras formas de entretimento. Numa determinada fase da sua vida só saia de casa após assistir as três novelas. E não tinha argumento que a demovesse dessa caturrice. Cedia apenas diante da possibilidade de ter TV onde estava sendo convidada, pois sabia que estavam tirando o seu chão dos seus pés.
Rotineiros eram os embates acalorados quando alguém perguntava alguma coisa sobre o enredo ou se fizesse qualquer comentário sobre o ator e a atriz. Quem mais sofria era a Leda Maria, goiana, que vinha encontrá-la no verão. Totalmente alheia as tramas e doida por um dedo de prosa, danava a perguntar.
- Quieta, Leda, respondia la Pinto.
Com a diversificação da programação das TVs, principalmente com as transmissões esportivas, passou a dividir seu ardor televisivo. Foi também uma forma de reviver seu passado de atleta, na seleção capixaba de vôlei. Aos domingos, com programação de três ou mais eventos esportivos, o Walmir Fiorotti, outro amigo, criou o domingão de la Pinto.
A sua aposentadoria trouxe outra forma de brincadeira: Vida de la Pinto. É que sobrou mais tempo e comprou outro aparelho pra sua sala de estar, solução encontrada pra assistir simultaneamente novelas e eventos esportivos, após instalar a TV a cabo. E dava conta do recado. Inclusive, adquiriu um novo hobby, as lutas livres das madrugadas, mantido livre do sono, exercitando o seu karate boliviano.
Hoje, Ângela Pinto, grande figura, amiga e companheira, dos tempos de Vitória, capital capixaba, não abandonou a TV, mas já não tem o mesmo fervor de outrora pelas três novelas, embora ainda seja incapaz de ficar 24 horas sem olhar pra telinha.


sexta-feira, 28 de agosto de 2009

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Os injustiçados


Quebra o meu galho; a vaca foi pro brejo; isso é um abacaxi; e, não gosto de jiló, amargo já basta a vida.
Com certeza, caso já tenha algum entendimento da vida, já ouviu alguma dessas expressões. Graças ao acelerado processo de urbanização já não pontua com mais frequência nas conversas como antanho. Deve ser porque saímos do campo e entramos pela evolução tecnológica, com outros usos e costumes nesses novos tempos. Mas não desapareceram para alguns imperdenidos.
Quebra o meu galho é do tempo das florestas cobrindo a terra e o homem achando que o recurso era infinito. Não é mais ecologicamente correta, além de carregar a pecha de tráfico de influência.
Duas injustiças acontecem com a vaca foi pro brejo. Ora, criatura, vaca cria bezerro/a, produz leite e carne, etc. Brejo não é um lugar ruim. Lá tem é muita vida!
Faço aqui uma mea culpa com os brejos. Nos anos 70/80, o governo capixaba lançou os programas Provárzea/Provales, de drenagem dessas áreas, uma panacéia pra auto-suficiência na produção de alimentos. Na prática mostrou-se um desastre, secando vários locais e dizimando centenas de espécies, algumas desconhecidas. Ajudei a divulgar essa falácia.
Leia Isso é um abacaxi no post abaixo.
Não gosto de jiló, amargo já basta a vida, pauta deste post, sugestão do Dino. O solanum gilo, que também é fruto, graças as mutações genéticas não é o mesmo que comia na infância, colhido na horta próxima de casa. Virou transgênico, mudou a cor, tamanho, agora com sabor insosso, desenxabido, contrapondo as agruras da vida moderna.
Desafio aceito, caro Dino, mas ao invés da Rainha, como propôs, vamos de Mulher Jiló, seguindo a tendências "das frutas".
O requisito básico é o jiló transgênico aí de cima.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Abacaxi é fruto


Ao contrário de algumas referências tentando impingir ao abacaxi uma certa má reputação - isso é um abacaxi, peguei um abacaxi, etc. e tal -, a aldeia faz questão de referenciar esse fruto, inclusive realizando festa pra comemorar o início da sua colheita.
Ele é uma importante atividade econômica pra centena de famílias, cerca de 3,8 mil pessoas, e para a aldeia. Marataízes responde por 70% da produção do Espírito Santo, estimada em 50 mil toneladas do fruto, dando ao município a primazia de um dos principais centro produtor de abacaxi do país.
A colheita, que inicia agora e se estende até janeiro e fevereiro, quando é farta e tem boa cotação no mercado, os reflexos aparecem.
Os vendedores já começaram a abastecer seus pontos de vendas às margens da rodovia, aumentando a oferta com a chegada do PSP - Povo Sem Praia - pra salgar a bifa.
A 8ª edição da Festa do Abacaxi vai de 21 a 23 próximo na comunidade de Brejo dos Patos. Além de apresentações musical tem a eleição da "Rainha do Abacaxi" e também premiação aos produtores de abacaxis.
Brava, gente, que vai descascando o preconceito contra o abacaxi.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Bravo Tromba!!!!!!!


Os campos de futebol no Brasil estão cheios de jogadores negros. Não tenho estatística pra explicitar minha elucubração, mas é só olhar pra os times que identificamos essa supremacia. Eles são os caras tocando a pelota. Pertenço há este tempo, embora eles estejam hoje mais pra lascar a canela ou maltratar a redondinha.
Essa realidade não se reproduz com os "professores", aquela figura da beira das quatro linhas a esbravejar ordens, cunhadas de "teorias futebolísticas", atrás de vitórias que garantam seus empregos.
Por mais paradoxal que a situação se mostre, ela não deixa de refletir a injusta escala na ascensão social da hierarquia na sociedade brasileira. Diria até ser um quadro caricato, pura ironia com o nosso futebol, que move montanhas e multidões, justamente ele que é visto com a porta de entrada na escala social.
Dos vinte times que hoje disputam a primeira divisão do Campeonato Brasileiro, até bem poucos dias não tinha um técnico negro. Talvez dois ou três com características negras, detalhes que fazem parte da grande massa.
Por isso a efetivação do Andrade, o Tromba, no comando do Flamengo, é uma novidade. Cinco vezes campeão brasileiro, torço pra que ele repita o que sempre realizou dentro dos campos, com técnica e sabedoria, que foi jogar bola.
Não espero do Andrade o que escreveu José Saramago, no seu ótimo O Caderno de Saramago: "Crie já uma equipa de futebol, uma equipa toda de jogadores monárquicos, treinador monárquico, massagista monárquico, todos monárquicos e, se possível, de sangue azul. Garanto-lhe que se chega a ganhar a liga, o país, este país que tão bem conhecemos se ajoelhará a seus pés."

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Eu tenho Siringomielia VII


TFD

Ao retomar o tratamento da siringomielia, em 2006, no hospital Sarah Kubitschek, Brasília, após 14 anos da confirmação da doença, um prenúncio de dificuldade espreitou-se no horizonte. Como custear as passagens e a estadia na capital federal? É um centro com custo de vida mais caro do planeta. Vivi isso.
O neurologista, Dr. Henrique de Souza, que acompanha meu caso, encarregou de afastar esse temor, indicando o programa de Tratamento Fora de Domicílio - TFD. É recurso Federal, administrado pelas Secretarias Estaduais de Saúde, pra transportes (aéreo ou terrestre) e diárias (20% do salário mínimo), incluindo acompanhante se for preciso. Passei no Serviço Social do hospital pra mais informações, onde peguei o telefone do órgão no Espírito Santo.
Não procurei logo o TFD, acreditando que era uma questão fácil de ser resolvida, deixando pra bem próximo do retorno ao hospital.
Subestimei à "burrocracia".
Os programas públicos precisam de critérios. Isso não se discute. Sem querer ser simplista, mas transparência e preparo das pessoas são requisitos básicos pra qualquer iniciativa.
As dificuldades começaram com o médico do órgão, que ia lá uma vez por semana, apenas por duas horas. Depois de três tentativas, marquei e não fui atendido. O TFD fica em Vitória, capital. Eu moro em Marataízes, a 137 km de distância. Fui atendido na próxima vez porque falei em acionar o Ministério Público, recomendação da assistente social do Sarah.
A tarefa do médico era indicar outro profissional pra fazer a avaliação do meu caso, preencher os formulários, assinar, atestando que a doença precisava de tratamento fora de domicílio.
De frente com o cabra, otorrinolaringologista, explique tudo a ele da siringomielia. Aparentemente sensibilizado me encaminhou ao Centro de Reabilitação Física do Estado - Crefes -, em Vila Velha.
A consulta foi agendada pra daí a 20 dias. Ao entrar na sua sala vi que o médico não era estranho. Com especialidade em fisioterapia, tinha passado por ele no início de 1990, durante a investigação da "mimi". Ele não esperou que concluísse a explicação, pedindo que voltasse ao TFD pra procurar um neurologista. Nem discuti.
De volta, indicaram os Hospitais Evangélico ou das Clínicas, da rede pública, quesito essencial para se ter o benefício.
Coisa simples, não?
Com ajuda da amiga, Terezinha Rangel, marquei com o neurologista do Evangélico, que morava no Rio de Janeiro e atendia duas vezes por mês no hospital. Ele preencheu o relatório, assinou e carimbou sem que fosse preciso entrar no seu consultório. Numa passada de olhos, avaliei que atendia as exigências. Entreguei ao TFD, confiante.
Uma semana depois, liguei atrás da confirmação. Agora "só servia o laudo do hospital das Clínicas" e que também era necessário "preencher o código do tratamento" para enquadramento no SUS.
Foram cerca de quatro meses nessa peregrinação. A data do retorno ao Sarah esgotou-se, mas minha perseverança, não. Ir em frente e derrotar o monstro, agora, era uma obsessão.
Conversei com o Dr. Orlando Abaure que tratava da outra moléstia em busca de ajuda. Ele contatou a titular da cadeira de neurologia da Ufes - Universidade Federal do ES -, a quem pertence o hospital, a Drª Vera Vieira.
Quando estive internado nesse hospital, a notícia que também tinha a "mimi" correu pelos corredores. A Drª. Vera levou duas turmas de estudantes pra conhecer a avis rara, passando pela sessão "martelinho".
Ao entrar na sua sala o circo estava armado. Sentada numa cadeira, atrás da mesa de trabalho, tinha ao seu redor uma dezena de estudantes. Não era hora de fraquejar. A retomada do meu tratamento seria decidida ali. Expliquei o estágio da "mimi", a decisão pelo Sarah e a busca de ajuda no TFD.
Ela, que tem timbre de voz com sonoridade alta, mirou os pupilos e lascou:
- Acha que não podemos fazer ressonância e acompanhar a sua doença.
Gelei. Tive medo.
Recompus as forças, argumentando que o estágio da doença exigia o tratamento num centro de excelência como o Sarah. Pra não admitir a precariedade local, saiu pela tangente, afirmando que " realmente o Sarah é referência em fisioterapia" e que também "estava sensibilizada" com o pedido do "amigo, Dr. Orlando".
Alívio. Aguardei fora e 20 minutos depois o laudo estava nas mãos, entregue por ela, que saiu andando apressadamente quase não dando de agradecer. Agora restava o carimbo e a assinatura de um diretor do hospital além do código. Nada que não se resolvesse. O código, mais difícil, meu "irmão", Walmir Fioroti, que trabalha na Secretaria de Saúde, se encarregou de achar a chave do mistério.
De posse da papelada, a Paula, minha mulher, xerocou e autenticou uma cópia, como segurança,
e fomos protocolar no TFD. Ao analisar a documentação, a funcionária "descobriu" que meu domicílio, Marataízes, estava subordinado ao TFD de Cachoeiro do Itapemirim, Sul do Espírito Santo.
E agora? Pular do sexto andar do órgão, indo direto para o palco do Carlos Gomes, tradicional teatro capixaba, bem ali, ao lado, e representar o bobo da incompetência, da desorganização e da estupidez de parte do serviço público?
A troca foi excelente. Uma recompensa. Encontrei Angela Babinski, responsável pelo órgão, cidadã preparada, sensata, uma colaboradora correta. Final feliz.
Passei a usar benefício naquilo a que se destina.
É o meu compromisso.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Uma condenação


O sempre antenado Blogracio publicou ontem, 03/08/2009, informação da decisão unânime da 2ª turma especializada do TRF da 2ª região - Justiça Federal do Espírito Santo, condenando por crime de racismo contra índios, o "colonista" Gutman Uchôa de Mendonça, do jornal A Gazeta.
Ela veio tarde - como ele tem mais de 70 anos, a pena é um ano de serviço à comunidade - por tudo que despejou contra todos, em quase meio século ininterrupto de serviços prestados à direita capixaba. Grande parte, diariamente, e mais recentemente, três vezes por semana, em espaço nobre do jornal.
É de se penitenciar ainda ser essa sua única condenação, pelo menos a que tenho conhecimento.
Da mesma forma, não espere encontrar essa notícia nos jornalões. Não faz parte do jogo.
Não vai dizer nada, é claro, mas seu espírito deve ser de regozijo com essa pena.
Vou relator dois fatos vividos com ele.
Ao dar os primeiros passos aprendendo o jornalismo - ainda vou aprender - em 1970, na Rua General Osório, centro de Vitória, a "república da Bolívia", onde golpe era rotina na redação, como no país vizinho, Gutman foi profético:
- O bom é você ser de direita.
A julgar pela sua longevidade, os ataques impunes e os cargos que ocupou - só no Sesc foram anos a fio - não exagerou.
O outro é mais recente. No começo de 1990 assessorei o então vice-governador do Estado, Adelson Salvador. Num rompante Quixotesco, em uma de suas interinidades no cargo de Governador, ele tentou peitar a banda podre da política capixaba, hoje, rebatizado de crime organizado, que anda por aí fantasiada de "demo".
Recebi uma informação que Gutman tinha escrito um serviço sujo, questionando a sexualidade do Adelson. Batata. No dia seguinte, o "colonista" tergiversou, disse e não disse, viajou, mas tascou no meio do texto encomendado, publicado em A Gazeta, nessa época, no Caderno Dois, que o codinome do vice-governador nas baladas era "Patrícia".
Talvez o berço de Gutman explique parte da sua personalidade. Ele é de São Mateus, Norte do Espírito Santo, um dos centros do país onde a escravidão foi mais feroz. Lá chegou a existir fazendas de reprodução de escravos, e filhas de escravas foram jogadas em tachos de água fervendo. São relatos do jornalista e historiador, Maciel de Aguiar.
A família de Gutman é casta dessa sociedade rural, que por muito tempo comandou o Estado. Ou seja, típico servidor da Casa Grande.

sábado, 18 de julho de 2009

Grilo cantante

E nós que pensávamos estar sós na guerra ao barulho, este complemento atual na rotina dos cidadãos e cidadãs, coisa tal qual respirar. Não se vive sem barulho, como procurou mostrar a matéria do maior jornal - no tamanho-, de Áua Mbaê Porã, informando que nossa cota diária do barulho é de 70 decibéis.
Não que ele não esteja presente na aldeia. A casa é de esquina e fica próxima a uma creche. É no verão, com a invasão do PSP - Povo Sem Praia -, que a rotina transborda. Aí é preciso chamar a polícia pra mostrar que volume de som tem limite.
Nosso apuro recente foi com um grilo. A criatura, na sua percepção do tempo, é infalível. Assim que o anoitecer dava sinal, ele disparava a corneta, que subia paulatinamente até chegar ao nível de estridência. O mais impressionante é a sequência do seu "canto". Parece que o cara não respira, gritando alucinadamente por horas intermináveis. Ao dia, ele some.
Caçá-lo mostrou-se infrutífero pois estava na parte de fora da casa. Aí seria necessária uma lanterna, o que é um exagero. As corujas também não apareceram pra fazer valer o ciclo da natureza.
A agonia durou uns cinco dias e a solução pra dormir foi fechar as portas dos banheiros de onde vinha o som do grilo cantante.
Acho que ele escafedeceu-se.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Arroz de polvo


A vida é um grande aprendizado. Mas é preciso estar disponível, pois o detalhe do conhecimento pode surgir tanto na experiência positiva como naquela que não deu certo. O não uso da palavra negativa nada tem a ver com qualquer sintoma de transtorno obsessivo compulsivo. Sou positivista. Quando a má fase aparece, fico quieto que ela passa.
Além do mais, o inimigo do aprendizado é a cegueira cognitiva, achar que sabe tudo.
Sexta última, 11/7, rafaadrenalia32@ pagou uma promessa com quase um ano de atraso. Anunciou que tinha conseguido um polvo de 3kg, fisgado pelo seu tio no mar em frente à aldeia. Em princípio relutei. Até então minha experiência estava limitada a fazer o prato, arroz de polvo, que se come no almoço e repete no jantar, com o polvo em torno 1,5kg, por considerá-lo mais fácil ao cozimento. Assim, evita-se que se coma um "arroz de polvo borracha".
Quebramos o paradigma.
O polvo acabou levando mais tempo pra ser cozido, normal, em torno de 2h00, na panela de pressão, contra 1h15 do de menor peso. Sem o tal do ritual de "bater pra amaciar". A grande sacada foi sua visibilidade no arroz, aquilo que chamam belo prato. Por ter os tentáculos maiores, ele acaba sobressaindo, ficando perceptível aos olhos e ao ser mastigado, dando ao paladar a exata noção de estar se fartando como um mortal. E que o mar continue pródigo em ofertá-lo. Amém.
Foi um belo almoço, que juntou a habilidade da Paula, inspirada, polvo com peso ideal, bem conservado, com o desejo reprimido de voltar a fazê-lo e comer.
Apesar de encontrá a iguaria aqui com certa facilidade, o preço anda dando congestão.
Uma parte foi reservada pra outra comilança, imbuída da missão de converter o Rafa a gostar do prato. Talvez assim quando estiver pescando sua lagosta, considere a hipótese de também trazer o polvo, pois são frutos encontrados no mesmo habitat.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Olha o "nordestão" aí, gente!


Há tempo que ele não soprava com a intensidade dos dois últimos dias. Fez até pensar no seu desaparecimento, por causa de uma ausência de uns seis meses, o que, convenhamos, é uma eternidade, mas, - ufa! -. um alívio.
Só hoje, tive certeza do seu retorno. Ontem ouvi barulho de folhas rolando no calçamento e sacolas plásticas em voos rasantes. Mas hoje foi mais ousado, entrando pelas frestas das janelas, mexendo com portas, levantando poeira e retorcendo árvores.
Está aberta a temporada do vento nordeste, que não tem previsão pra terminar. Por isso é necessário ser um observador do tempo.
Agora ele começa soprando pelas 9h00, ganhando força nas horas seguintes, permitindo uma convivência até pacífica, calma, de um vento agradável.
Os dias vão passando, entra cada vez mais cedo, às 7h00. mais veloz, como Senna. O seu auge vai de setembro a novembro. E a convivência, agora, já não é tão pacífica. Ao contrário, o tempo fecha.
É complicado andar nas ruas por causa da areia que joga no rosto e olhos, obrigando o uso de óculos. As casas são fechadas. Na nossa rua, ele conseguiu a proeza de quebrar o galho de uma vistosa castanheira.
Aliás, a aldeia é um caso exemplar da sua pujância, maestria, virtudes reconhecidas pelos maratimbas e forasteiros.
Ela é um dos pontos escolhido no litoral capixaba pra ter uma usina de produção de energia eólica.
Nem tudo tá perdido.

Prestenção: Ao avistar uma quantidade expressiva de marolinhas brancas no mar, conhecidas também por "carneirinhos", lição do mestre Pedro, exímio conhecedor do humor dos oceanos, é a materialização da força do vento nordeste soprando, rebeldia domada só pelo seu oposto, o vento sul, que traz consigo a frente fria.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O pássaro veio dar boas vindas


Tenho uma ligeira suspeita de que o comentário feito aqui sobre sua presença num local tão insólito tenha chegado ao seu conhecimento.
Há poucos dias voltamos a Cachoeiro do Itapemirim, sul do Espírito Santo, e passamos novamente no tal supermercado. Estacionei o carro numa outra parte da frente do estabelecimento, só que agora num local com uma pequena nesga de área, entre o estacionamento e o prédio, arborizada com pequenas árvores.
Num relance, deu pra sentir um movimento ligeiro em frente ao carro, algo como o voo de um pardal, espécie típica desses locais. Passado alguns minutos eis quem pousa sobre o capô: o pássaro, que ainda não identifiquei. Voou logo, acredito, porque tinha acabado de estacionar e é provável que o carro estivesse quente.
Não demorou muito, voltou, mostrando intimidade.
Primeiro andou pelo tal canteiro pra depois pousar no capô do "pretinho", onde ficou por uns dois minutos. Em seguida veio na direção do pára-brisa, pegando um inseto preso na paleta do limpador, que provavelmente foi parar ali no percurso entre a aldeia e Cachoeiro.
Saboreou o banquete ali mesmo, balançou a cabeça de satisfação, agradecendo, voando para o fio da rede elétrica, onde cantou de alegria ao lado de uma companhia, que não vi da primeira vez.
Tudo leva crer que delimitaram aquele território pra eles.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O "pum" da Usina Paineiras



Aqui também tem o lado grotesco do desenvolvimento.
Neste período do ano, época da colheita e moagem da cana pra produção de açúcar e álcool, com a corrente de vento sul, a aldeia fede.
É o peido da Usina Paineiras.
Foi a designação mais amena que encontramos pra batizar a fedentina que impregna o ar, deixando-o irrespirável.
A catinga vem do vinhoto, subproduto da moagem, canalizado em valas abertas até às plantações próximas da indústria, depois lançado sobre a terra como adubo.
É insuportável, ocorrendo com mais frequência ao amanhecer e entardecer. E olha que a zona urbana da aldeia fica a uma distância de uns 15 km, em linha reta, da indústria.
Essa poluição me lembrou de outra similar, vivida no final dos anos de 1970 e início de 1980, ainda morador de Vitória, após a inauguração da fábrica de celulose da Aracruz Celulose. A distância da indústria lá era maior, uns 40 km em linha reta, o que não aliviava em nada o mau cheiro. Era agravado por ela estar instalada ao Norte da capital do Estado, garantindo fedor nos quase 364 dias do ano, trazido pela corrente de vento nordeste. Após muitas reclamações conseguiram dar um jeito na situação.
Aliás, a predominância da corrente de vento nordeste sobre Vitória fez com que o cientista Augusto Ruschi, o do beija-flor, fizesse um alerta sobre a implantação do pólo siderúrgico de Tubarão, na parte Norte da cidade. Foi taxado de louco, inconsequente, chegando a sofrer ameaças de prisão e morte. Hoje os moradores de Vitória, Vila Velha e Cariacica, respiram ar "vitaminado" por pó de minério.
É a insensatez humano.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Ode a pequena produção



Numa das idas à Feira do Produtor, aqui na aldeia, renovou minha gratidão a pequena produção no fornecimento de alimentos. Os caminhões da prefeitura que trazem os produtores e a sua produção, atrasaram, dando um aspecto de abandono onde ela é realizada, com bancas vazias e sem o frenético ir-e-vir de pessoas comprando.
A chegada do primeiro veículo restabeleceu parte da rotina, dissipando, de vez, o ar de desolação, com a chegada do outro comboio.
À medida que as bancas eram abastecidas, renascia o coração da feira numa fartura de produtos, materializando-se numa profusão generosa de alimentos, prova inconteste de vitalidade e da importância social e econômica desse segmento produtivo.
O grupo é formado por uns 20 produtores. Esse conjunto, cada com o seu pouco, forma a dinâmica da feira.
Agora ela tá bombando. A temperatura amena permite produzir verduras (folhas e tubérculos), coincidindo ainda com a safra de laranjas (lima, bahia e seleta), mexerica, tangerina, cajá, etc. É tudo produção orgânica, que dá um paladar saboroso, diferenciado aos produtos. O solo da região ajuda muito, um verdadeiro oásis de terras férteis, capaz de produzir praticamente de tudo. Chegamos a comprar o cupuaçu, fruta típica da Amazônia.
A feira também é excelente para o bolso. Com $ 40,00 é possível encher a geladeira de verde e ornar a casa com frutas.
Essa fartura levou o "Nezinho das Galinhas", duro de negociar, a seguinte constatação:
-Tô precisando baixar meu preço.
Brado o meu alerta: A pequena produção não pode desaparecer, e sim, multiplicar.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

"Se" rasga Galvão*



Falar de Galvão Bueno, principalmente, mau, é redundância.JustificarÉ o mesmo como a soma de 2 + 2 = quatro. Embora também possa ser cinco.
Mas o cara até que encontrou uma parada parelha nessa confederations cup, em peleja na África do Sul.
A vida sempre se renova e redime algumas almas penadas.
Quem se postou na frente de uma TV pra assistir algum jogo é provável que esteja até agora com o ouvido impregnado por aquele zunido de mosca varejeira. Ou de abelhas. Você escolhe.
São os bafanas, bafanas, com suas vuvuzelas - cornetas.
Eles estão conseguindo a proeza de fazer a gente esquecer os "ensinamentos" do Galvão, embora tenho percebido que o dito cujo tá extrapolando na narração dos golos. O cara tá se rasgando em exagero. Ou tá desafiando os bafamas.
Acho que além do botox, ele também investiu nas cordas vocais.
Meu receio agora é o Dino se apropriar da onda e importar as vuvuzelas pra animar as passeatas da sua CIVICA.
Já basta a ôla, viu Dino.

* Vai assim mesmo

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Eu tenho siringomielia VI


Agora é exercício

A siringomielia nunca foi desculpa pra que eu não pudesse viver. Ao contrário. Mesmo com toda a sua carga, vivi intensamente, no limite da imprudência. Então, não é agora, mesmo com as severas limitações, que deixarei de continuar vivendo. Basta mudar o rumo, embicar o leme pra este lado que aqui também tem vida, num oceano de calmaria.
No meu retorno ao hospital Sarah, no início de 2006, aguçou a curiosidade de encontrar outro/a "malacabado/a" da tribo "siringomieliana". Igual aos andantes em relação a nós, que ficam doidos pra saber o que aconteceu com a gente.
A indagação recorrente:
-Foi acidente?
Pois cheguei a abordar uma companheira, de andar meio parecido com o meu, aqui tá raso, aqui tá fundo, consequência de uma doença que também paralisou os movimentos da sua perna, mas era "falk".
Trocamos impressões, e ela perguntou:
-Ainda faz nheco, nheco?
-Claro - respondi.
-Vida que segue, né, receitou a criatura.
Não é fácil encontrar uma "avis rara" com siringomielia. Continuo procurando.
Costumo dizer que ainda não ganhei na Mega-Sena, mas tenho a "mimi".
De volta à aldeia, depois do check up no Sarah, é hora de tomar tenência e fazer a minha parte. A prescrição médica foi pelo tratamento convencional, nada de medicamentos, apenas exercícios. Optei pela hidroterapia, recurso que julguei capaz de duelar com a "mimi" pra preservar o mínimo de autonomia pessoal. Uma luta diária, em favor da minha independência/individualidade.
Meu primeiro dia na piscina da AABB local, onde faço a hidro, foi marcante. Ela não tem adaptações pra essa demanda. O acesso é precário e nada de barras nas laterais. Pra entrar, sento na borda e pulo na parte rasa.
Pra sair foi o ó do borogodó. Claro que não foi necessário um guindaste ou um caminhão munck, mas tive quer ser içado pela Paula, minha mulher, é pelo Roque, "o faz tudo" da AABB, situação que se repetiu por uns 45 dias.
A sequência nos exercícios, uma bateria de oito, com duração de uma hora, três vezes na semana, surtiu efeito. Com dois meses já conseguia sair da piscina só com a ajuda da Paula. O ganho me animou. Melhorei a escada de acesso e coloquei uma barra na lateral.
Hoje, três anos após iniciar a hidroterapia, não tenho receio em afirmar que a hidro me salvou, preservando uma parte importante da minha autonomia. Mesmo agora, que estou há mais de 25 dias sem exercícios, por causa do frio, - aqui não existe piscina aquecida -, sinto o quanto o meu corpo pede a hidroterapia. Tento compensar com uma caminhada diária, de uma hora. Mas sempre fica faltando alguma coisa.
O ganho com os exercícios é diário e de forma contínua. Não adianta a gente querer projetar resultados pra daqui a dois, dez, cem dias. Ele só vem com a repetição, com a sequência, com o compromisso com você. É viver com atitude. Ninguém salva ninguém.
Daí, cabra, vai de maluco beleza, Raul Seixas, em Tente outra vez:
... levante sua mão sedenta e recomece a andar
não pense que sua cabeça aguenta se você parar
não, não, não............
Não tá satisfeito, tome mais:
... e não diga que a vitória está perdida,
tente
se é de batalhas que se vive a vida...

Por isso não tenho receio em fazer uma mea culpa por antes não ter me dedicado aos exercícios.

O duelo com a siringomielia continua.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Rafaadrenalina32@......


Não faltam histórias numa conversa com ele. Basta começar uma prosa e lá vem com a sua versão, cheia de enredo, com fatos e personagens que se contrapõem aos seus. Aí o papo estica por horas.
Em algumas situações é preciso dizer:
Menos Rafael, menos..... Tamanha é a viagem na maionese que sua fantasia bordeja.
Rafael, colega meu, é nosso vizinho. Tem 25 anos. É um exímio pintor, mesmo não sendo a profissão preferida dele. Mas por caráter e também gostar de ter o seu "troco" no bolso, vai à luta.
Ele gosta mesmo é de chuva, torcendo pra que ela dure 40 noites e 40 dias. Ou anos.
Não tem receio em dizer: - O sujeito que diz que gosta de trabalhar é mentira. Eu não gosto.
A frase, tal como seu pai, é dita com gosto, não deixando pairar dúvidas sobre ela.
Sonha entrar na corporação ou na polícia civil. É pra pegar bandido. Inclusive fez alguns concursos, sem sucesso. Agora planeja ser segurança de transporte de valores.
Combina com sua personalidade, caçador de aventuras.
Uma das suas histórias, por sinal, "verdadeira", é sobre um jacaré, de cerca de 1,70m, da sua altura, que capturou junto com um tio. Ela veio de um gancho dado a ele ao comentar que vimos numa lagoa, às margens da rodovia ligando a aldeia à BR 101, vários jacarés boiando, esquentando sol, em campana a espera de uma presa.
A sua versão: Armaram três anzóis com iscas. No dia seguinte encontraram apenas o que estava preso por um cabo de aço. Iniciaram uma luta encardida com a presa. Só depois de "SETE" facãozadas na cabeça do animal, conseguiram colocá-lo no capô do fusca.
A epopéia prossegui na chegada em casa. Ao abrir o capô, o jacaré, vivinho da silva, pulou, espalhando o povo num raio de 100m, com gente se pendurando em galhos de árvores, subindo em camas, mesas e escondendo dentro de armários. Sem falar nos tropeções e gritos.
Na aldeia não tem corpo de bombeiro e por isso não foi chamado. A Polícia Ambiental era cana.
-Aí já era demais, disse ele. Era preciso tomar tenência e acabar com aquilo. Meteram bala no bicho, que acabou na panela.
Rafael não gostou da carne. Melhor assim. Pelo menos dele, a espécie tá protegida.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Antonio Nóbrega - Lunário Perpétuo

Antonio Nóbrega é um artista completo. É magistral a sua apresentação neste vídeo. Vale conferir. Eita terra brasilis!!!

sábado, 23 de maio de 2009

Meu Maverick bi, bi.....



"O mundo gira e a Lusitânia roda".
Abordei um também frequentador da feira aqui da aldeia, de toda sexta, que chega pra fazer sua compra pilotando um possante Maverick. Não o da foto ao lado, chupado desse mundo virtual, um objeto de desejo de consumo de muita gente na década de 1970.
A lembrança me remeteu a um coquetel que participei em Brasília, no lançamento nacional do possante, em 1973, ao som de banda e prestigiado por Ministros, general de cinco estrelas, meninas, etc.
Tinha acabado de chegar ao planalto central, vindo das grotas da Jacutinga, interior de "Jerominho" Monteiro, ES, atrás de alguma coisa pra ter grana e também poder comprar aquele objeto ali, perto dos olhos e longe da minha possibilidade financeira. Sonho de um "minino" vindo do interior, alargando o quê a vida é capaz de ensinar, na capital federal.
Papeando com o homem do Maverick, encontrei novamente o sentido da expressão do começo deste texto.
O carro tá com ele há 25 anos. É o segundo dono e comprou de um amigo.
Arrematando: Ele e o Maverick vieram de Brasília. O amigo dele comprou o carro na revendedora Slaveiro, que ficava na W3 Sul, o point comercial da época, onde fui tirar onda de potencial comprador - viu o tamanho do eufemismo, Dino? -, no coquetel de lançamento do fuderoso.
Este post também me levou ao figuraça, Carlinhos "Profeta", um amigo albino, de cabelos e barba avermelhados, tocador de flauta doce e artesão, hoje refugiado em Regência, Linhares, atraído pela preservação das tartarugas marinhas, que teve seu momento "Maverick amarelão", na década de 1980, rodando por Manguinhos, em outro estágio da vida nesse balneário da Serra. Tudo no ES.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Triste pássaro



Uma das coisas que considero desoladora é um pássaro pousado num fio da rede elétrica. Talvez seja pelas imagens da infância. Fui acostumado ver ele em seu habitat natural, a árvore. Naquele antanho já me sentia desconfortado vê-los em cima de fios de arames de cercas, essa invenção que apartou a humanidade num quadrado, resultando no "cada um no seu.....", uma blasfêmia contra a música, que impregnou moucos ouvidos recentemente.
Saí de mim coisa ruim!
Hoje, 20/05/2009, fomos a Cachoeiro do Itapemirim, aqui no Sul do Espírito Santo.
Cachoeiro transita entre megalópole a um cafundó. Peçam ao Trevisan ou Bininho pra explicarem melhor essa parte.
Fiquei no carro aguardando a Paula, minha mulher, ir ao supermercado.
Por cerca de 30 minutos, observei um pássaro, não sei de qual espécie, sozinho, pousado na rede elétrica. Não era pombo, a praga pardal ou o bem-te-vi, que virou urbanóide.
Primeiro voou em direção a uma árvore ali plantada, refugou e posou na haste que pretende a lâmpada ao poste, voltando, em seguida, ao local de origem.
Novo voo pra outra árvore, capturou um inseto e fez ali mesmo, pousado no fio, o seu banquete solene e descompromissado, sobre as cabeças dos transeuntes apresados e os roncos dos carros em filas lá em baixo. Não deu tempo pra soltar a digestão.
Bom, a mim, restou este desabafo.