quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Eu tenho siringomielia XI


Nós penamos mais

Sei. Já saímos dos quartinhos dos fundos onde a hipocrisia humana "escondia seus defeituosos" explícitos, pois a regra é espécime com aparência robusta, bela e infalível.
To tendo o privilégio de transitar pelos dois lados.
Fui "andante' até os 38 anos, tempos que permitiram desafiar o limite humano. Depois, pego pela siringomielia, fique cambaleante, bengaleiro e agora empurro um andador. A próxima etapa é a cadeira de roda, onde já treino.
Nada que não se adapta desde que comicha na gente aquela vontade de tocar a tropa.
Do contrário, é uma derrota, diria colega meu.
Em julho de 2009, iniciei o processo para a compra de um carro zero bala, requerendo a isenção do IPI, na Receita Federal, que deveria ser liberado em até 120 dias. Acompanhei a tramitação pelo site, que sempre informava: Em andamento. Em janeiro último, seis meses depois, intrigado, fui checar: O documento ficou pronto e não remeteram como é de praxe.
O "esquecimento" foi providencial. É que surgiram opções de carros intermediários, equipados com câmbio automatizados, escolha que fiz, com preço mais em conta, dando pra continuar de pé e dormindo o sono tranquilo, longe dos pesadelos com dívidas.
A etapa seguinte foi requerer a isenção do ICMS na Secretaria Estadual da Fazenda. Pedi o colega Maurício pra protocolar a documentação. A Agência do órgão fica no centro de Cachoeiro de Itapemirim, sem estacionamento e com uma escadaria de botar medo em qualquer portador de deficiência.
Recusaram. Orientado, Maurício me ligou e passou o telefone pra falar com a funcionária, exigindo a Carteira de Motorista com a observação DEFICIENTE. Argumentei que o Decreto de Isenção do ICMS pede o Laudo do Detran ou a Carteira. Na falta da Carteira, o cabra tem até 180 dias de prazo pra apresentá-la.
Simples, não?
Maurício retornou. Destaquei as opções laudo ou carteira, explicitados no formulário de orientação, pra nova tentativa de protocolar. Escapou de ser jogado escadaria abaixo.
Voltei pra casa disposto a ir à guerra.
Liguei pra Secretaria, em Vitória, e falei com o Serviço de Orientação. O funcionário veio com a mesma bobagem. Argumentei que me obrigava a comprar um veiculo para adaptá-lo ou automatizado, sem os benefícios fiscais pra regularizar a carteira. Só assim teria direito a isenção do ICMS. Ou mudar o decreto, propus, acabar com a opção do laudo, beneficiando somente que já a carteira com a restrição deficiente.
Ufa! Entendeu.
Liguei e contei ao chefe da Agência da Secretaria sobre a batalha fratricida. Retornou depois orientando fazer um "novo requerimento". Transcrevi parte do laudo, destacando a obrigatoriedade do "veículo adaptado, câmbio automático ou automatizado", e "retornar pra prova de rua".
Fomos pra Cachoeiro, agora com a Paula, minha mulher. Lá chegando, o funcionário que recusou a documentação, comentou:
-Agora, sim.
Com mais sarcasmo, marcou pra daí a dois dias a liberação da isenção. Escaldado, pedi a um contador daqui pra retirá-la, que só ficou pronta dez dias depois.
Tá achando que acabou?
Namorei, via internet, o Voyage, da Volkswagen. Todo pomposo fui às compras. O primeiro susto veio com valor, três mil a mais, em relação ao preço do site. Foi um aperitivo ao que estava por vir. Pediram novos documentos, agora a isenção do ICMS de SP, novo laudo do DETRAN, e o absurdo do absurdo: meu EXTRATO BANCÁRIO.
Sei da necessidade de um instrumento legal que garanta o negócio.
Pra mim, a exigência EXTRATO BANCÁRIO soa como quebra de sigilo fiscal, eivada de preconceito da minha incapacidade de gerir a vida. Nem as receitas estadual e federal chegaram a tanto, pedindo tão somente comprovante de renda.
Deixei claro na negociação que o pagamento seria a vista.
Pedi a vendedora pra enviar por e-mail a relação dos documentos. Paralelamente, cotei com outra concessionária, de Vitória, que reafirmou preço e o EXTRATO BANCÁRIO.
OU SEJA: É UMA PRÁTICA NEFASTA DA VOLKSWAGEN.
É claro que desisti. Quando estava na concessionária Itacar, de Cachoeiro, reencontrei o vendedor com quem vinha conversando. Tinha ido lá acertar a sua rescisão contratual e que agora estava na Fiat. Fechei com ele, assinando um termo de compra e não exigiu novos documentos.
Sobre o ICMS, aceito, pois cada Estado é autônomo pra legislar sobre o tributo.
Já o EXTRATO BANCÁRIO.......... vade retro Wolkswagen!!!!
Em tempo: É lenda urbana que os descontos do IPI/ICMS pode chegar a 30% do valor do veiculo. No máximo 25%. Caso for financiar tem ainda o desconto do IOF, requerido junto com o IPI.
O carro é faturado na fábrica em nome do deficiente.