domingo, 13 de dezembro de 2009

"Espírito Santo": Um testamento?

Li o livro "Espírito Santo", presente do João Gualberto e Cristina, que devem ter recebido algum sinal do meu desejo por ele. Valeu amigos.
Assinado pelo juiz Carlos Eduardo Ribeiro Lemos, pelo secretário de Segurança do Estado, Rodney Rocha Miranda e por Luiz Eduardo Soares, coautor de "Elite da Tropa", o livro conta detalhes das investigações sobre o crime no Estado.
É um testamento? Não ousaria a tanto.
A narrativa parte das primeiras suspeitas levantadas, a partir de 2000, pelos juízes Carlos Eduardo Lemos e Alexandre Martins, na Vara de Execuções Penais da capital, onde atuavam como adjuntos. Os indícios, benefícios ilegais a presos, respingavam no juiz titular, um dos acusados do assassinato de Alexandre, morto na manhã de 24 de março de 2003 quando ia para a academia. O acusado ainda aguarda julgamento.
Carregado de detalhes não conhecidos, o livro não nomina os chefões do crime, optando por caracterizá-los através de pseudônimos. Já os executores e outros personagens desse mundo paralelo são tratados pelos verdadeiros nomes. Deferência, também, dada a outros que combateram o bom combate.
A citação da ocupação pública dos "chefões" e a aposta na sonoridade dos pseudônimos como pista dos nomes de certidões - Prates que seria Gratz, Coronel Petrarca pra Ferreira e do juiz Lobo pra Leopoldo, ficando apenas na tríade do mal -, pode até funcionar para o público interno. O externo vai precisar de uma pesquisa pra saber a verdadeira identidade.
Talvez seja este o "pecado" do livro. Ou seja, as evidências sobre o "crime organizado" estão sobre a mesa, mas não personificaram os chefões e parte do seu entorno.
Outro senão ao "Espírito Santo" é a continua citação nominal do governador do Estado. Acabaram exagerando na forma.
Entendo que ao bancar a continuidade das investigações, num momento crucial, menos de três meses da sua posse, com o corpo do juiz Alexandre Martins, abatido por tiros numa rua de Vila Velha, vizinho a Vitória, já garantiria a ele o lugar no panteão.
É está a perspectiva histórica vista hoje: A ambiência política criada pra continuidade do trabalho, inclusive, possibilitou outros desdobramentos de investigações, como a Operação Naufrágio no judiciário estadual, que resultou no afastamento do presidente do Tribunal entre outras figuras.
Ao que parece, o feeling dos autores apostou mais uma vez nesta ambiência política e numa prática do mandatário estadual, apreciador em ter suas realizações retratadas em livros.
Por enquanto tá dando resultado. Após sua publicação, parte do comando da Polícia Militar local peitou o secretário Rodney, colocando outdoors nas ruas e manifestações, pedindo a sua cabeça. Sua excelência fez ouvido de mouco até agora.
Sem dúvida, o livro é uma referência pra entender parte das entranhas do crime no Estado. Trabalhou com farta documentação, sustentando a tese da existência material de uma rede criminosa, lastreada por apoios no Executivo, Judiciário, Legislativo, e na sociedade civil.
Carregou no realismo, variante que os veículos de comunicação imediata não conseguem explicitar. Como exemplo clássico, a escolha pelo título "Espírito Santo".
Sem azedume. Apenas um ponto de vista.
Li, gostei e passo adiante.