domingo, 29 de março de 2009

A casa das corujas



Ao retornar de uma viagem no início de 2006, encontramos novos moradores instalados na garagem da casa: Um casal de coruja buraqueira. Desde a nossa mudança prá aldeia, em 2003, ele já rondava a área, anunciando a sua presença ao emitir seu pio próximo da janela do quarto, colado num lote vago.
O casal foi expulso pela construção de uma casa no lote que tomava conta. Como é a parte fraca nessa luta contra o homem e a quadra foi o território escolhido prá viver, encontraram a casa vazia e um buraco no muro, não titubeou, montou ali a nova moradia.
No começo de dezembro daquele ano uma coruja sumiu repentinamente, aparecendo, dias depois, na porta do buraco, com um comportamento e coloração diferentes. Estava chocando. Após o natal, os dois primeiros filhotes surgiram na porta do buraco. Em seguida, outros dois, mostrando, claramente, a forma seletiva no nascimento. Os primeiros, fortes. Os últimos, mirrados.
Não foi o melhor momento pra nascer. É nessa época que o povo sem praia invade a aldeia e a pressão é descomunal prá uma espécie tão indefesa. Seguramos a barra, os caras sobreviveram e ganharam o mundo.
No ano seguinte, outra ninhada de mais quatro filhotes, agora em setembro, período mais tranquilo. Inclusive foi decisivo no seu desenvolvimento, voando e deixando a companhia dos pais mais cedo. Em 2008, quando mudamos da casa, o casal regularizou o seu ciclo reprodutivo, que vai de abril a junho, com mais uma ninhada de quatro rebentos.
Procuramos intervir o mínimo possível na rotina do casal, oferecendo, apenas segurança prá viver. Essa relação criou um clima de confiança, permitindo uma aproximação de menos dois metros de distância entre nós. Mesmo o macho, arredio no começo, acabou se integrando ao convívio.
O nosso carro acabou virando poleiro de coruja e pagando as consequências, alvo de homéricas cagadas. Não pousava em outro carro. Essa preferência resultou num fato curioso. Mudamos prá outra casa, na mesma rua, a uma distância de 300 a 400 metros. Numa madrugada ouvimos o grito típico da coruja próximo da janela. No dia seguinte fui conferir: a cagada branca, marca registrada, estava em cima do carro.
Outro episódio engraçado foi uma cochilada que a fêmea deu, chegando a cair do muro, mas não se estropiou no chão. Acordou durante a queda. A coruja praticamente não dorme, tem hábito noturno. Costuma dar suas cochiladas ao dia, equilibrando-se numa perna.
A nossa dúvida era se resistiria ao verão passado. Felizmente, o casal continua lá, agora como patrimônio da rua, inclusive como referência de endereço, a casa das corujas.
Isso mostra que a natureza pede pouco. Apenas respeito.