terça-feira, 4 de agosto de 2009

Uma condenação


O sempre antenado Blogracio publicou ontem, 03/08/2009, informação da decisão unânime da 2ª turma especializada do TRF da 2ª região - Justiça Federal do Espírito Santo, condenando por crime de racismo contra índios, o "colonista" Gutman Uchôa de Mendonça, do jornal A Gazeta.
Ela veio tarde - como ele tem mais de 70 anos, a pena é um ano de serviço à comunidade - por tudo que despejou contra todos, em quase meio século ininterrupto de serviços prestados à direita capixaba. Grande parte, diariamente, e mais recentemente, três vezes por semana, em espaço nobre do jornal.
É de se penitenciar ainda ser essa sua única condenação, pelo menos a que tenho conhecimento.
Da mesma forma, não espere encontrar essa notícia nos jornalões. Não faz parte do jogo.
Não vai dizer nada, é claro, mas seu espírito deve ser de regozijo com essa pena.
Vou relator dois fatos vividos com ele.
Ao dar os primeiros passos aprendendo o jornalismo - ainda vou aprender - em 1970, na Rua General Osório, centro de Vitória, a "república da Bolívia", onde golpe era rotina na redação, como no país vizinho, Gutman foi profético:
- O bom é você ser de direita.
A julgar pela sua longevidade, os ataques impunes e os cargos que ocupou - só no Sesc foram anos a fio - não exagerou.
O outro é mais recente. No começo de 1990 assessorei o então vice-governador do Estado, Adelson Salvador. Num rompante Quixotesco, em uma de suas interinidades no cargo de Governador, ele tentou peitar a banda podre da política capixaba, hoje, rebatizado de crime organizado, que anda por aí fantasiada de "demo".
Recebi uma informação que Gutman tinha escrito um serviço sujo, questionando a sexualidade do Adelson. Batata. No dia seguinte, o "colonista" tergiversou, disse e não disse, viajou, mas tascou no meio do texto encomendado, publicado em A Gazeta, nessa época, no Caderno Dois, que o codinome do vice-governador nas baladas era "Patrícia".
Talvez o berço de Gutman explique parte da sua personalidade. Ele é de São Mateus, Norte do Espírito Santo, um dos centros do país onde a escravidão foi mais feroz. Lá chegou a existir fazendas de reprodução de escravos, e filhas de escravas foram jogadas em tachos de água fervendo. São relatos do jornalista e historiador, Maciel de Aguiar.
A família de Gutman é casta dessa sociedade rural, que por muito tempo comandou o Estado. Ou seja, típico servidor da Casa Grande.