sábado, 18 de julho de 2009

Grilo cantante

E nós que pensávamos estar sós na guerra ao barulho, este complemento atual na rotina dos cidadãos e cidadãs, coisa tal qual respirar. Não se vive sem barulho, como procurou mostrar a matéria do maior jornal - no tamanho-, de Áua Mbaê Porã, informando que nossa cota diária do barulho é de 70 decibéis.
Não que ele não esteja presente na aldeia. A casa é de esquina e fica próxima a uma creche. É no verão, com a invasão do PSP - Povo Sem Praia -, que a rotina transborda. Aí é preciso chamar a polícia pra mostrar que volume de som tem limite.
Nosso apuro recente foi com um grilo. A criatura, na sua percepção do tempo, é infalível. Assim que o anoitecer dava sinal, ele disparava a corneta, que subia paulatinamente até chegar ao nível de estridência. O mais impressionante é a sequência do seu "canto". Parece que o cara não respira, gritando alucinadamente por horas intermináveis. Ao dia, ele some.
Caçá-lo mostrou-se infrutífero pois estava na parte de fora da casa. Aí seria necessária uma lanterna, o que é um exagero. As corujas também não apareceram pra fazer valer o ciclo da natureza.
A agonia durou uns cinco dias e a solução pra dormir foi fechar as portas dos banheiros de onde vinha o som do grilo cantante.
Acho que ele escafedeceu-se.