quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A porta de entrada dos sertões do ES

Terras baixas do vale do Itapemirim, trecho entre a Barra e a Vila, codinomes de Marataízes e Itapemirim, núcleos originais das duas urbes e que perduram até hoje. 
O desembarque era na foz do rio Itapemirim, a Barra. Até o primeiro quartel do século XIX, a ocupação se restringia somente ao atual município de Itapemirim. Por volta 1818 existiam cerca de nove engenhos de açúcar, principal fonte econômica, e a população não passava de 1.900 pessoas.
No segundo quartel daquele século aumentou o fluxo de pessoas, iniciando a escalada na ocupação dos sertões do Espírito Santo, na esteira da lavoura de café que inseriu o Estado na Agro Exportação.
Até 1920 era intensa a movimentação de pessoas e mercadorias neste trecho - A ligação férrea de Cachoeiro de Itapemirim com Vitória as exportações do café mudou de porto, findado o ciclo de ouro desse local.   
As pessoas provavelmente provavelmente viam apenas as pontas das montanhas já que todo este descampado era coberto pela outrora exuberante mata Atlântica. 
Foto Rafael Pereira.

sábado, 24 de maio de 2014

Construção de barco de pesca ainda é artesanal

Mesmo usando insumos modernos, a construção de barcos de pesca ainda é artesanal. As fotos do Rafael Pereira mostram uma das etapas deste ofício, a calafetagem que é feita nas junções das madeiras, utilizando o barbante de seda que não apodrece. Depois é aplicada sobre ele uma mistura de cola araldite com pó de serra. Este processo se repete quanto é feito reparos nas embarcações.
A pintura do casco, na parte submersa n’água, é com o zarcão naval, proteção contra cracas e o temido busano, um pequeno molusco que penetra na madeira quando o barco tem contato com a água doce. Ele se desenvolve até ficar adulto comendo a madeira até deixar uma fina casca, ação quase imperceptível. 
O restante da embarcação, parte superior e interna, o casario, é pintado com tinta naval.
O “estaleiro” fotografado fica em Itaipava/Itapemirim, litoral Sul do ES.


quarta-feira, 26 de março de 2014

Oração e contemplação

Esta conjugação a Matriz de Nossa Senhora da Penha possibilita aos nativos, agregados e visitantes de Marataízes/ES. Ela provavelmente é uma das poucas igrejas brasileiras com esta perspectiva visual, principalmente pelo fato de ter sido construída ao nível do mar. Edificada sobre um lajeado, no formato de capela, em 1926, passou por uma grande reforma entre 1982/83, preservando a sua parte frontal. São quatro janelas e uma porta que ficam a menos de 100mts do mar. Está localizada próximo da Praia Central, centro, e só abre para celebrações. Foto Rafael Pereira.

sábado, 1 de março de 2014

O ES no caminho da descoberta do ouro

Os caminhos do ouro também cruzaram o território capixaba. Lucas Figueiredo neste seu ótimo Boa ventura faz uma revelação surpreendente. Embora seja controverso quando e quem ele afirma que o primeiro documento oficial do achado é de 1693,feito que coube ao bandeirante Antônio Rodrigues de Arzão. Arzão e seus cerca de 50 homens caçavam índios nos sertões de Minas e num local conhecido como Casa da Casca encontrou um ribeirão com disposição de ter ouro. Com experiência em mineração ele usou os pratos de chumbo como bateia. O local era dominado por índios bravos e sua comitiva foi cercada. Escapou pelo rio Doce e veio parar no litoral do ES, quase nus, sem pólvora ou chumbo, mas trouxe ouro, equivalente ao peso de dois dentes de alho, entregue ao Capitão-Mor Regente da Capitania, João Velasco de Molina. Era a primeira prova do metal precioso apresentado a um Agente da Coroa Portuguesa. Talvez pela insignificante quantia, Velasco não comunicou o fato aos seus superiores. Mandou cunhar duas medalhas com o metal, uma pra ele e a outro para o bandeirante.
Em 1573, a segunda expedição da caça ao ouro, comandada por Sebastião Fernandes Tourinho, saiu de Porto Seguro e passou pelo ES rumo a MG, voltando à Bahia de mãos vazias.
Outra revelação do livro é o empenho pessoal de D. Afonso VI na organização da expedição do então recém-empossado governador das Minas de Paranaguá, atual Paraná, e da Serra das Esmeraldas, uma lenda, Agostinho Barbalho de Bezerra. D. Afonso, segundo rei de Portugal restaurado, livre da tutela dos monarcas espanhóis, encontrou a coroa falida. Desceu do pedestal e escreveu a diversos bandeirantes pedindo ajuda. Em 1666, abastecido de viveres e munição, Agostinho Barbalho saiu de Vitória com sua tropa rumo ao sertão, margeando o rio Doce. Um ano e meio depois moradores do Rio de Janeiro receberam o que restou da expedição: alguns poucos sobreviventes. Agostinho não estava entre eles.


domingo, 23 de fevereiro de 2014

Não verás mais de pé ou abatido, agora só em fotos como esta, um exemplar deste da outrora exuberante Mata Atlântica, que cobria todo o Norte capixaba, aqui sob o jugo dos caçadores de madeira. A foto não tem identificação de data, mas é possível imaginar que seja da década de 50 pra cá. Ela carrega um simbologismo marcante, expressado nos homens e crianças por estarem diante de um troféu. O Norte do ES foi nicho de madeiras nobres, destaques para o jacarandá e a peroba do campo. A foto foi publicada no grupo Nova Venécia - História, Memória e Imagem, no facebook.
 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

E o verde verdejou

Pude contribuir para que esta vegetação ocupasse o píer de Iemanjá, em Camburi, Vitória. Inicialmente eram três exemplares de espécies da restinga que foram parar lá, devidamente cuidadas com ajuda do marinheiro Pedro, sempre vigiando o pessoal da limpeza das ruas. Conversei com a amiga e também jornalista, Rita Bridi, à época na assessoria de imprensa da Secretaria de Meio Ambiente de Vitória, e outras mudas foram plantadas. Foi no ano de 1999 quando iniciei os passeios de escuna pela baía da capital. Reconfortante.
A experiência com o projeto da escuna foi dura, com perdas materiais significativas e também estressante emocionalmente, típico empreendedorismo sem os conhecimentos da atividade. Ou seja não basta só a ideia. A lucidez e o compromisso comigo de que a vida pode ser vivida sem a necessidade de ferrar o semelhante fez com que pulasse fora, sem ressentimento, seguindo em frente com o aprendizado.
 Foto Valtemir Figueiredo.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Uma leitura apaixonante

O ciclo do ouro no Brasil é um evento sem paralelo na história da humanidade. É uma amostra de que não basta ter só a riqueza. Por cerca de dois séculos e meio a busca por Sabarabuçu, uma montanha reluzente em ouro, incendiou a cobiça de plebeus e reis, ávidos pela fortuna fácil e o enriquecimento da noite para o dia. Ela existiu, não na forma de uma montanha, mas sim num eldorado onde o simples gesto de se arrancar uma planta do solo as suas raízes estavam impregnadas do metal. A exploração do ouro foi de 1697 a 1810 e o autor estima a produção em cerca de 1.000 toneladas, fora o contrabando. Boa Ventura, de Lucas Figueiredo, indicação do amigo e também voraz leitor, Heli Fonseca, é um passeio neste universo, desnudando fatos e personagens numa narrativa leve, compreensiva e rica, reconstruindo este importante ciclo da nossa história. Vale a muito a sua leitura.