quarta-feira, 10 de março de 2010

A bunda da Lucinda


De relance, não acreditei. Acordar é ver ali, a menos de dois metros ao alcance dos meus olhos, algo tão parelho como aquela manhã de domingo?
Uma miragem? É o que veio de imediato.
Dei meia volta pra conferi aquela cena-espetáculo matinal.
- Oh céus, é real.
Tomei rumo do banheiro. Não, a intenção não era consumir tal volúpia num ato do prazer individual. Ao contrário. Era preciso recobrar os sentidos, abrindo bem os olhos pra aquele inusitado.
Joguei a água pelo rosto pra despertar os sentidos.
Mirei fixamente a minha imagem no espelho.
Não tive dúvidas: era eu, vivinho e pronto pra uma nova contemplação.
A distância do banheiro pra sala, local da cena-espetáculo, era pequena.
Deslizei suavemente, despido d'alma, pra não despertar suspeita na expiação.
Entre almofadas esparramadas sobre um colchão no chão, dormia um corpo feminino da cor de canela, em posição meio fetal. Vestia uma pequena blusa e uma calcinha asa-delta branca, cobrindo duas amêndoas, voltadas na direção dos meus olhos contemplativos, que não podem ser doados. Será alimento da terra.
Sai pra caminhar na praia. Afinal, natureza é natureza.
Retornei e cena-espetáculo era uma lembrança na memória.
O Walmir Fiorotti, com quem tinha uma casa alugada em Manguinhos/Serra/ES, deu um pouso pra Eliza Lucinda. Foi nos idos da década de oitenta, ela, ainda estrela local e nós caçadores dessas almas femininas.