sábado, 18 de julho de 2009

Grilo cantante

E nós que pensávamos estar sós na guerra ao barulho, este complemento atual na rotina dos cidadãos e cidadãs, coisa tal qual respirar. Não se vive sem barulho, como procurou mostrar a matéria do maior jornal - no tamanho-, de Áua Mbaê Porã, informando que nossa cota diária do barulho é de 70 decibéis.
Não que ele não esteja presente na aldeia. A casa é de esquina e fica próxima a uma creche. É no verão, com a invasão do PSP - Povo Sem Praia -, que a rotina transborda. Aí é preciso chamar a polícia pra mostrar que volume de som tem limite.
Nosso apuro recente foi com um grilo. A criatura, na sua percepção do tempo, é infalível. Assim que o anoitecer dava sinal, ele disparava a corneta, que subia paulatinamente até chegar ao nível de estridência. O mais impressionante é a sequência do seu "canto". Parece que o cara não respira, gritando alucinadamente por horas intermináveis. Ao dia, ele some.
Caçá-lo mostrou-se infrutífero pois estava na parte de fora da casa. Aí seria necessária uma lanterna, o que é um exagero. As corujas também não apareceram pra fazer valer o ciclo da natureza.
A agonia durou uns cinco dias e a solução pra dormir foi fechar as portas dos banheiros de onde vinha o som do grilo cantante.
Acho que ele escafedeceu-se.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Arroz de polvo


A vida é um grande aprendizado. Mas é preciso estar disponível, pois o detalhe do conhecimento pode surgir tanto na experiência positiva como naquela que não deu certo. O não uso da palavra negativa nada tem a ver com qualquer sintoma de transtorno obsessivo compulsivo. Sou positivista. Quando a má fase aparece, fico quieto que ela passa.
Além do mais, o inimigo do aprendizado é a cegueira cognitiva, achar que sabe tudo.
Sexta última, 11/7, rafaadrenalia32@ pagou uma promessa com quase um ano de atraso. Anunciou que tinha conseguido um polvo de 3kg, fisgado pelo seu tio no mar em frente à aldeia. Em princípio relutei. Até então minha experiência estava limitada a fazer o prato, arroz de polvo, que se come no almoço e repete no jantar, com o polvo em torno 1,5kg, por considerá-lo mais fácil ao cozimento. Assim, evita-se que se coma um "arroz de polvo borracha".
Quebramos o paradigma.
O polvo acabou levando mais tempo pra ser cozido, normal, em torno de 2h00, na panela de pressão, contra 1h15 do de menor peso. Sem o tal do ritual de "bater pra amaciar". A grande sacada foi sua visibilidade no arroz, aquilo que chamam belo prato. Por ter os tentáculos maiores, ele acaba sobressaindo, ficando perceptível aos olhos e ao ser mastigado, dando ao paladar a exata noção de estar se fartando como um mortal. E que o mar continue pródigo em ofertá-lo. Amém.
Foi um belo almoço, que juntou a habilidade da Paula, inspirada, polvo com peso ideal, bem conservado, com o desejo reprimido de voltar a fazê-lo e comer.
Apesar de encontrá a iguaria aqui com certa facilidade, o preço anda dando congestão.
Uma parte foi reservada pra outra comilança, imbuída da missão de converter o Rafa a gostar do prato. Talvez assim quando estiver pescando sua lagosta, considere a hipótese de também trazer o polvo, pois são frutos encontrados no mesmo habitat.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Olha o "nordestão" aí, gente!


Há tempo que ele não soprava com a intensidade dos dois últimos dias. Fez até pensar no seu desaparecimento, por causa de uma ausência de uns seis meses, o que, convenhamos, é uma eternidade, mas, - ufa! -. um alívio.
Só hoje, tive certeza do seu retorno. Ontem ouvi barulho de folhas rolando no calçamento e sacolas plásticas em voos rasantes. Mas hoje foi mais ousado, entrando pelas frestas das janelas, mexendo com portas, levantando poeira e retorcendo árvores.
Está aberta a temporada do vento nordeste, que não tem previsão pra terminar. Por isso é necessário ser um observador do tempo.
Agora ele começa soprando pelas 9h00, ganhando força nas horas seguintes, permitindo uma convivência até pacífica, calma, de um vento agradável.
Os dias vão passando, entra cada vez mais cedo, às 7h00. mais veloz, como Senna. O seu auge vai de setembro a novembro. E a convivência, agora, já não é tão pacífica. Ao contrário, o tempo fecha.
É complicado andar nas ruas por causa da areia que joga no rosto e olhos, obrigando o uso de óculos. As casas são fechadas. Na nossa rua, ele conseguiu a proeza de quebrar o galho de uma vistosa castanheira.
Aliás, a aldeia é um caso exemplar da sua pujância, maestria, virtudes reconhecidas pelos maratimbas e forasteiros.
Ela é um dos pontos escolhido no litoral capixaba pra ter uma usina de produção de energia eólica.
Nem tudo tá perdido.

Prestenção: Ao avistar uma quantidade expressiva de marolinhas brancas no mar, conhecidas também por "carneirinhos", lição do mestre Pedro, exímio conhecedor do humor dos oceanos, é a materialização da força do vento nordeste soprando, rebeldia domada só pelo seu oposto, o vento sul, que traz consigo a frente fria.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O pássaro veio dar boas vindas


Tenho uma ligeira suspeita de que o comentário feito aqui sobre sua presença num local tão insólito tenha chegado ao seu conhecimento.
Há poucos dias voltamos a Cachoeiro do Itapemirim, sul do Espírito Santo, e passamos novamente no tal supermercado. Estacionei o carro numa outra parte da frente do estabelecimento, só que agora num local com uma pequena nesga de área, entre o estacionamento e o prédio, arborizada com pequenas árvores.
Num relance, deu pra sentir um movimento ligeiro em frente ao carro, algo como o voo de um pardal, espécie típica desses locais. Passado alguns minutos eis quem pousa sobre o capô: o pássaro, que ainda não identifiquei. Voou logo, acredito, porque tinha acabado de estacionar e é provável que o carro estivesse quente.
Não demorou muito, voltou, mostrando intimidade.
Primeiro andou pelo tal canteiro pra depois pousar no capô do "pretinho", onde ficou por uns dois minutos. Em seguida veio na direção do pára-brisa, pegando um inseto preso na paleta do limpador, que provavelmente foi parar ali no percurso entre a aldeia e Cachoeiro.
Saboreou o banquete ali mesmo, balançou a cabeça de satisfação, agradecendo, voando para o fio da rede elétrica, onde cantou de alegria ao lado de uma companhia, que não vi da primeira vez.
Tudo leva crer que delimitaram aquele território pra eles.