sábado, 20 de março de 2010

Eu tenho siringomielia XII


Um tombo pra não esquecer

Acho que ainda tava inebriado pelo baticum da folia de outros tempos.
Rodopiei qual um mestre sala. Cadê a mão da porta-bandeira, Paula, pra segurar a euforia desta festa profana que insistia em aboletar-se de mim?
Desesperadamente, tentei segurar na cômoda. Foi inútil.
Restou desviar de uma cadeira de diretor e da porta, direcionando o corpo pra um espaço livre do chão. Como? Não sei. Talvez o instinto da preservação.
Resultado: -Tá lá um corpo estendido no chão, diria o locutor esportivo.
A mim restou: -Ai, ai, ai........ Socorro.
Agora é até engraçado e dá pra fazer troça com o episódio, nada mais humano.
Vade retro!
Passado o susto é hora de contabilizar o infame tombo. Aparentemente verifiquei que não quebrei nenhum membro, só que ele tinha sido diferente dos outros, uns quatro já contabilizados na caderneta. Canalizei o peso da queda pra cima da perna esquerda, a prejudicada pela guerra da siringomielia, sentindo um incomodo ao passar a mão sobre o fêmur.
Fizemos uma tentativa de levantar, tarefa que só foi possível com a ajuda de uma vizinha. Me colocaram sentado na cadeira, recuperei do susto, recobrei o autocontrole, e com o andador, caminhei até a cama.
Clareando: Na quarta pós carnaval, após o café da manhã, fui trocar o andador pelas bengalas canadenses, mais adequadas pra o acesso à piscina, e fazer a hidroterapia, rotina de três vezes na semana. Acho que juntou autoconfiança e imprudência. Vinha de uma excelente seqüência de exercícios, umas sete semanas sem faltas, que me proporcionou um bem estar há tempo não experimentado. Passei por um perrengue de uns sete meses sem a hidro. Na aldeia não tem piscina coberta e aquecida. Tô a mercê do humor do tempo. A seqüência nos exercícios dita os resultados.
A retomada noutra piscina, mais preparada, trouxe de volta meu otimismo, confesso, que às vezes se excede.
A imprudência foi ter colocado as bengalas num local inadequado da casa, embora das outras vezes tenha feito a operação sem o fatídico acidente doméstico. (Observou que agora uso andador, Leda Maria? Ele já me acompanha desde a cirurgia da hérnia na cervical, feita no Sarah, em outubro de 2008. É mais seguro e melhora minha mobilidade. A Leda é das amigas/amigos que acompanham a "evolução" da minha "mimi".).
Passado 24h, radiografei o local, mostrando uma fissura no fêmur. O ortopedista recomendou 30 dias de repouso. Há 12 dias experimento uma melhora sensível, confirmada na quinta 18/3, após novo raio-X. Agora são outros 45 dias em observação pra consolidar a fissura. Já voltei para o andador, projetando pra breve retomar a caminhada.
Não há que lamentar ou jactar-se.
A realidade é que a siringomielia vai minando o equilíbrio de um andante. Os exercícios - hidro e caminhada - têm garantido uma independência vital. Isto ficou evidente mais uma vez após o tombo.
Agora é procurar evitar outra bobeira, coisa que infelizmente tem hora que foge do controle.
Não desisti!