quinta-feira, 9 de abril de 2009

Meu pé de pitanga



Meu pé de pitanga não é apenas uma lembrança na memória por suas deliciosas frutas vermelhas, de sabor agridoce, cuja produção iniciava-se sempre a partir do mês de outubro. É também uma grata recordação pelo seu porte e beleza.
Se ainda vivo - a natureza se renova - não hesitaria em deflagar uma marola pra ele figurar no guiness como a maior pitangueira do mundo.
Não só por sua altura, nada desprezível, de uns sete metros, mais por sua circunferência.
Sem exagero, pra mais de 15 metros.
Era tão generoso que sob sua copa cabia até três animais adultos, a procura de sombra, em dia de sol de pocar. Também alimentava com seus frutos os pássaros. Uma festa. Os galhos serviam ainda de porto seguro pra ninhos ou casas de marimbondos, construídos sempre ao lado das pitangas mais cobiçadas.
O meu pé de pitanga não foi plantado pela mão do homem, não pelo dito "civilizado". Como é uma espécie nativa da mata atlântica -o nome vem do tupi-guarani pyrang-, ele acabou sendo preservado na derrubada da mata. Tornou-se uma árvore solitária no meio de uma roça de milho, feijão, algodão, café, que depois virou pastagem, esse ciclo da nossa agricultura.
Ele ficava na Jacutinga, interior de "jerominho", Jerônimo Monteiro, Sul do Espírito Santo.
É só uma boa lembrança na bagagem.

PS - O escrito foi impulsionado após uma cena que vi da janela de um apartamento na 302 Norte, Brasília. Era um domingo, olhando a paisagem, vejo uma criatura descer de um carro parado ao lado do canteiro central da via e passa a colher algo de uma árvore. Em seguida, a mesma cena se repete com outra pessoa. Percebi, então, que é extensa a lista de loucos por pitangas.
Além da vermelha tem ainda a amarela e a preta. Não conheço. Só não é encontrada nos mercados da vida porque não caiu no gosto do capitalismo.